sexta-feira, dezembro 30, 2011
quinta-feira, dezembro 29, 2011
ENQUANTO NÃO DÓI A SÉRIO
Por esta altura os portugueses ainda andam ocupados com as os festejos da passagem do ano, com a ementa do jantar, ou com o almoço do dia de Ano Novo, por isso o governo vai aproveitando para carregar um pouco mais a lista dos sacrifícios para 2012, sem que o pessoal se aperceba.
A comunicação social também não está muito virada para análises profundas, como balanços do ano que está a findar ou previsões sobre o ano que vai começar, porque não há jornalismo de investigação e também eles se acham com direito a aproveitar as festas.
As notícias são interessantíssimas, como por exemplo as bandalheiras da Casa dos Segredos”, a placa do Largo José Sócrates, ou que Richard Nixon era homossexual.
Para 2012 não será com anestesias destas que os portugueses deixarão de sentir as dificuldades que já se perfilam, porque no final dos salários sobrará ainda mês, e o futuro de jovens e menos jovens tornar-se-á cada vez mais cinzento à medida que aumenta o desemprego e diminui a protecção social.
terça-feira, dezembro 27, 2011
BIZARRIAS
Ficámos todos a saber pela Lusa que a GNR de Braga já deteve 16 vezes o dono de uma pastelaria da cidade por alegadamente se encontrar dentro do estabelecimento uns minutos para além do horário de funcionamento.
Diz-se que uma infracção é sempre uma infracção e que a lei é para se respeitar, e eu até concordo, mas esta notícia não deixa por isso de ser completamente bizarra.
O senhor ministro da Administração Interna ao ler esta notícia deve reflectir bem, e pronunciar-se sobre este procedimento dos agentes que de si dependem, porque a levar a sério este tipo de infracção, então a maioria dos seus agentes anda a fingir que não vê e não sabe o que se passa por este país fora.
Imagine-se que os gerentes bancários eram detidos de cada vez que se vissem funcionários a trabalhar depois da hora? E podia continuar a enumerar empresas e mesmo serviços públicos onde isso acontece, sem que a autoridade manifeste a sua presença e tome qualquer medida.
Por este andar ainda haverá algum cívico mais zeloso que vá ao gabinete do Álvaro e lhe dê ordem de detenção por querer que se trabalhe mais meia hora diária sem remuneração, o que a Constituição naturalmente não permite. Afinal o liberalismo pode ser perverso, não é?
segunda-feira, dezembro 26, 2011
A REPÚBLICA DE BANANAS
Uma das funções que todos esperam seja cumprida pelo Estado é a da regulação dos diversos sectores da economia, não apenas para assegurar uma concorrência leal entre empresas, mas sobretudo para assegurar que os serviços são prestados a preços justos, satisfazendo a procura dos cidadãos.
Nos nossos tempos até assistimos à criação de entidades reguladoras dos diversos sectores, muitas vezes funcionando independentemente da própria administração central, ainda que por vezes com competências dentro do meio consultivo.
Seja como for, e independentemente dos órgãos reguladores e fiscalizadores, a anarquia é uma realidade, demonstrando-se assim que o Estado não é capaz, ou não deseja fiscalizar e/ou regular algumas actividades económicas, abdicando das suas obrigações e competências.
O sector dos transportes é bem elucidativo da falta de autoridade e de respeito que existe para com as entidades reguladoras, ou seja o Estado, já que as empresas já anunciaram aumentos de preços dos transportes para vigorarem a partir de 1 de Janeiro, quando o governo ainda não definiu qual é o valor da subida.
O ministério da Economia está em absoluta letargia e finge que não tomou conhecimento dos anúncios tornados públicos pelas empresas transportadoras, para não ter que tomar as medidas que se impõem. Afinal onde é que pára o Álvaro?
sexta-feira, dezembro 23, 2011
quarta-feira, dezembro 21, 2011
FALAR DE BARRIGA CHEIA
Depois de um secretário de Estado, e do primeiro-ministro, eis que vem um deputado ao Parlamento Europeu, de peso e com peso no PSD, exaltar a solução da emigração para quem não encontra trabalho em Portugal.
Aquilo que podia ter sido um mero lapso comunicacional, afinal é uma ideia arreigada neste partido instalado no poder, o que dá um sinal muito negativo deste tipo de governação.
Já se sabia que o ministério da Economia tem sido inoperante, mas faltava ainda ouvir da boca de governantes que não existe qualquer estratégia de crescimento para o país.
Quanto a Paulo Rangel, para quem este tipo de declarações não são “motivo para escândalo”, convém recordar que é um emigrante privilegiado que pouco ou nada sabe das dificuldades ligadas ao desemprego e à emigração forçada. Apetece dizer que para o seu lugar, senhor deputado há mais de 700 mil candidatos.
terça-feira, dezembro 20, 2011
O NATAL E OS PRESENTES
Não pretendo discutir a racionalidade dos presentes de Natal, e muito menos as convicções religiosas relativas a esta quadra, mas tão só mostrar uma visão muito minha.
Considero que o mais importante no Natal é a reunião familiar, que não acontece assim tantas vezes que não mereça uma especial relevância, especialmente para um filho único.
Não terei sido dos mais desafortunados, e posso dizer que até tive alguns presentes de Natal quando era criança, ao contrário de tantos outros que nada tiveram, mas fui educado de modo a lhes dar muito valor, e a conservá-los com todo o carinho.
Gosto de dar presentes às crianças. Confesso que quando dava algum presente aos meus filhos mais velhos, que sabia que era o que desejavam, me sentia contente por o poder satisfazer. A utilidade dos presentes sempre foi tida em conta, porque nunca fui nem rico nem esbanjador.
Com a idade, e porque os filhos já são adultos e já me deram uns quantos netos, o que me dá mais prazer nesta quadra é ter a família reunida em volta da mesa de Natal, e saber das traquinices dos mais novos, admirar as suas gracinhas, e constatar que os filhos estão bem encaminhados na vida.
Afinal há muitas formas de dar e de receber. Os presentes agora já não são tão importantes para mim, embora para os pequenos haja sempre um mimo, o que mais importa é a reunião familiar. Afinal é um bom presente de Natal.
domingo, dezembro 18, 2011
QUE MISÉRIA DE GOVERNANTES
Os governantes que temos tido nos últimos 20 anos demonstraram a sua fraca qualidade, não só atendendo ao mau estado da nossa economia, mas sobretudo devido às más opções que tiveram quando sentados nas cadeiras do poder.
É frequente ouvir governantes deitarem as responsabilidades aos que os antecederam, ainda que os seus partidos tenham partilhado o poder intermitentemente nas últimas décadas. Apesar das promessas com que brindam os eleitores, os resultados estão à vista e as responsabilidades morrem sempre solteiras.
A falta de sentido de Estado e até de vergonha, manifesta-se a cada dia, e hoje temos Passos Coelho a sugerir a emigração de professores desempregados, o que se alargou também a profissionais de outras áreas como a saúde, o ambiente e as comunicações.
Confesso que é penoso ouvir da boca dum 1º ministro aquele tipo de declarações, até porque tem cortado exactamente nas áreas da educação, comunicação, ambiente e saúde, apesar do atraso que temos nestas áreas relativamente aos nossos parceiros europeus.
Os cidadãos deste país investiram imenso nestas áreas, e refiro-me às famílias e contribuintes em geral, e agora vem Passos Coelho dizer que foi um investimento para se deitar borda fora, para se entregar de mão-beijada a países estrangeiros.
Como é que um país com os menores níveis de escolaridade da sua população se pode dar ao luxo de “aconselhar” a emigração de uma geração, que é apenas a mais bem apetrechada a nível de escolarização?
sábado, dezembro 17, 2011
sexta-feira, dezembro 16, 2011
A PANACEIA DA CREDIBILIDADE
A Constituição tem sido usada como desculpa para a ineficácia dos governos, que dizem sempre ser necessário alterá-la para conseguirem atingir determinados objectivos.
Passos Coelho vem agora com a sua “regra de ouro” dizer que é preciso inscrevê-la na Constituição, para credibilizar os compromissos assumidos nos pactos de estabilidade e crescimento.
Estranho motivo este, invocado por quem não cumpre os seus compromissos para com os cidadãos deste país, desrespeitando mesmo a Constituição que jurou defender.
As palavras bonitas “tal como as dívidas são para se pagar, os acordos são para se cumprir” ficam bem na boca de quem preza a sua palavra e cumpre as suas promessas, e disso Passos Coelho não se pode gabar nem orgulhar.
quinta-feira, dezembro 15, 2011
A VULGARIDADE INTELECTUAL
Hoje, (...) o homem médio tem as «ideias» mais taxativas sobre quanto acontece e deve acontecer no universo. Por isso perdeu o uso da audição. Para quê ouvir, se já tem dentro de si o que necessita? Já não é época de ouvir, mas, pelo contrário, de julgar, de sentenciar, de decidir. Não há questão de vida pública em que não intervenha, cego e surdo como é, impondo as suas «opiniões».
Mas não é isto uma vantagem? Não representa um progresso enorme que as massas tenham «ideias», quer dizer, que sejam cultas? De maneira alguma. As «ideias» deste homem médio não são autenticamente ideias, nem a sua posse é cultura. A ideia é um xeque-mate à verdade. Quem queira ter ideias necessita antes de dispor-se a querer a verdade, e aceitar as regras do jogo que ela imponha. Não vale falar de ideias ou opiniões onde não se admite uma instância que as regula, uma série de normas às quais na discussão cabe apelar. Estas normas são os princípios da cultura. Não me importa quais são. O que digo é que não há cultura onde não há normas. A que os nossos próximos possam recorrer.
Quando faltam todas essas coisas, não há cultura; há, no sentido mais estrito da palavra, barbárie. E isto é, não tenhamos ilusões, o que começa a haver na Europa sob a progressiva rebelião das massas. O viajante que chega a um país bárbaro, sabe que naquele território não regem princípios aos quais possa recorrer. Não há normas bárbaras propriamente ditas, a barbárie é ausência de norma e de possível apelação.
Ortega y Gasset, in 'A Rebelião das Massas'
terça-feira, dezembro 13, 2011
A SAÚDE E O DINHEIRO
Há quem continue a pensar que é apenas o dinheiro que faz o mundo girar, e engana-se, porque sem saúde o dinheiro não vale nada.
A riqueza resulta do trabalho de todas as actividades que se conhecem, mas para trabalhar as pessoas necessitam de ter saúde, porque senão não podem produzir o suficiente para ser suficientemente rentável o seu desempenho.
Em Portugal temos políticos e gestores que encaram a saúde apenas como um negócio e não como um investimento, demonstrando completa falta de visão.
É um dado adquirido e comprovado que trabalhadores motivados, saudáveis e confiantes no seu futuro são mais produtivos, mas a aposta dos nossos políticos actuais vai exactamente em sentido contrário.
A boa saúde dos cidadãos é do interesse de todos, Estado, patronato e restante população, e as medidas que este governo está a tomar, que não moderam o seu acesso, antes o dificultam ou mesmo impedem, são inconstitucionais e lesivas do interesse nacional.
segunda-feira, dezembro 12, 2011
A PROPORCIONALIDADE
Um dos pilares de qualquer Democracia é a Justiça. A Justiça é responsável por manter os equilíbrios necessários ao desenvolvimento social, garantindo também a igualdade de direitos e a defesa dos mais fracos.
A Democracia em Portugal está a padecer de diversos males, e entre eles está o da falta de eficácia e de proporcionalidade da Justiça.
Presentemente o sentimento dos portugueses é de que há dois tipos de Justiça, a dos pobres e a dos ricos. Na realidade o acesso à Justiça por parte dos que dispõem de fracos meios financeiros é muito limitado, e tem vindo a piorar nestes últimos dois ou três anos.
É um facto também que começam a ser desproporcionais as próprias prioridades que o poder político impõe ao sistema judicial. Veja-se por exemplo a intenção declarada de penhorar viaturas a quem não pague portagens, como se não existissem já previstas penalizações para estas infracções.
No extremo oposto das prioridades está a penalização de quem prejudicou o país e os depositantes nos casos do BPN e do BPP, casos que mexem com milhares de milhões de euros.
Outras perplexidades que nos fazem questionar a nossa Justiça são os contratos reconhecidamente ruinosos para o Estado nas Parcerias Público Privadas, em que não existem responsáveis por incúria nem por dolo.
Quando os cidadãos deixam de acreditar na Justiça, começam também a duvidar que este sistema seja verdadeiramente Democrático.
domingo, dezembro 11, 2011
O DINHEIRO
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça, o maldito,
Tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.
E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
E só dizer-lhe: «Aí vai...»
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto:
Tlim!
Pronta.
Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
Tlim!
Ora...
Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!
João de Deus, in 'Campo de Flores'
sexta-feira, dezembro 09, 2011
PIOR A EMENDA...
As medidas restritivas impostas pelo governo já atingiram o ponto em que o que o Estado arrecada de receitas é inferior ao que gasta devido às consequências das próprias medidas.
Os cortes nos subsídios de Natal deste ano já se notam no comércio, onde os gastos diminuíram significativamente relativamente ao ano anterior. Dá para ter uma ideia bem fundamentada, de que nos próximos dois anos, com os cortes dos subsídios de férias e de Natal, aos funcionários públicos e pensionistas, as vendas serão ainda piores.
O aumento da taxa de IVA na restauração já a partir de Janeiro, vai causar uma diminuição muito significativa do movimento nos restaurantes, o que vai fazer com que a receita deste imposto seja um fracasso monumental.
O corte de feriados e a supressão de pontes terá um efeito negativo no turismo interno, que sustenta boa parte dos equipamentos turísticos nacionais, especialmente em época baixa, que serviam para ir aguentando o sector enquanto a procura externa era baixa.
A cobrança de portagens nas Scut, para sustentar empresas que beneficiaram de contratos ruinosos para o Estado, vai reflectir-se em aumentos dos produtos para consumo interno, e também para encarecer as nossas exportações. Há outros efeitos associados, como o aumento do tráfego em estradas pouco cuidadas, mais acidentes e mortes.
O pior disto tudo é que este conjunto de medidas causa um aumento do desemprego cujos custos para o erário público é enorme, já para não falar em outros custos sociais cuja dimensão é sempre muito difícil de quantificar.
Tal como se diz na gíria, “é pior a emenda que o soneto”.
quinta-feira, dezembro 08, 2011
FRASES SOBRE O PROGRESSO
quarta-feira, dezembro 07, 2011
TOLICES DE CONSERVADORES
Por vezes lemos notícias que nos parecem verdadeiras anedotas, e creio mesmo que há jornais a competir nessa área, ou pelo menos jornalistas que tem esse condão.
Imagine-se alguém a citar um tal de Dan Gaionor, membro do conservador Media Research Center, dizendo: “É impressionante o quão longe a extrema-esquerda vai para manipular as crianças, para convencê-las, para lhes passar mensagens antimultinacionais” e “há décadas que o fazem… Hollywood, a esquerda, os média, todos odeiam a indústria petrolífera… Eles odeiam a América empresarial”.
Gente assim até consegue dizer que a Disney e o resto da indústria cinematográfica se entretém a tecer uma agenda secreta para lavar o cérebro das criancinhas contra o capitalismo.
Este anticomunismo primário está a fazer escola em certos meios dos EUA, e parece que a indústria cinematográfica daquelas paragens pode estar ameaçada por um novo Macartismo.
Por cá também já começam a aparecer uns laivos do mesmo mal, e temos uns que dizem que há anarquistas preparados para fazer tumultos, e outros que pensam que os hackers são perigosos esquerdistas. Essa gente apela à preparação de polícias especiais para combater estas “ameaças dos nossos tempos”.
segunda-feira, dezembro 05, 2011
TEMPO DE ANTENA
Começa a ser difícil engolir a descarada propaganda feita na TVI pelo comentador Marcelo Rebelo de Sousa. Como se sabe qualquer governo tem bastante tempo de antena, devido ao que decide e ao que é necessário explicar à opinião pública, mas não é necessário “esticar” ainda mais esse tempo com as opiniões de alguém que é completamente alinhado com este governo.
Neste domingo o professor desafinou estrondosamente quando classificou os hackers que “atacaram” diversos sites oficiais portugueses, de gente de esquerda. Não acredito que um professor universitário, e político bem informado, creia verdadeiramente que um hacker tenha agenda política.
Conforme me indignei em tempos quando MRS foi “boicotado” numa televisão, agora fico revoltado com o facto de se ter tornado num propagandista deste governo, ainda que numa televisão privada. Embora esteja tudo perfeitamente dentro da lei, acho que até ele teria todo o interesse em não estar nesta posição, sem ninguém que exerça o contraditório numa ocasião em está no poder o PSD.
A ler também AQUI
domingo, dezembro 04, 2011
DA ÍNDOLE DOS HOMENS
A índole é, muitas vezes, ocultada; outras, subjugada; quase nunca extinta. A força faz a índole mais violenta, em represália; a doutrina e o discurso tornam-na menos importuna; somente o costume alcança alterá-la e refreá-la. Àquele que busca vencer a sua própria índole não se deve propor tarefas nem muito grandes nem muito pequenas; as primeiras torná-lo-ão desalentado ante os sucessivos fracassos; as outras, devido às repetidas vitórias, torná-lo-ão convencido. A princípio, deve-se adestrar com auxílios, como o fazem os nadadores com bexigas ou cortiças; mas ao cabo de certo tempo, é mister se adestre com desvantagens, como os dançarinos com sapatos pesados. Chega-se a grande perfeição quando a prática é mais árdua do que o uso. Quando a índole é pujante e, por consequência, difícil de vencer, o primeiro passo será resistir-lhe e deter-lhe os ímpetos a tempo, a exemplo daquele que, quando estava irado, repetia as vinte e quatro letras do alfabeto; em seguida, racioná-la em quantidade, como o que, proibido de beber vinho, passou dos repetidos brindes a um trago nas refeições; por fim, anulá-la de todo.
Não erra o antigo preceito em recomendar que, para endireitar a índole, se a encurve até ao extremo contrário, contanto que este não seja vicioso. Ninguém deve impingir a si mesmo um hábito com perpétua continuidade, mas sim com alguma intermitência. A pausa reforça a nova arremetida, e se alguém que não seja perfeito estiver sempre em adestramento, exercitará tanto os seus erros quanto as suas habilidades, convertendo ambos em hábitos; e não há outra maneira de evitar isso senão mediante intermitências regulares. Que ninguém confie excessivamente na vitória que alcançou sobre a sua própria índole, pois esta pode permanecer soterrada por longo tempo e, contudo, reviver conforme a ocasião ou tentação.
(...) Por isso, é mister, ou evitar inteiramente a ocasião, ou expor-se-lhe frequentemente, de modo a alcançar ser pouco movido por ela. A índole de um homem é melhor percebida na intimidade, quando não há afectação; na paixão, que o faz desbordar dos seus preceitos; ou no curso de algum novo caso ou experimento, pois então o costume o deserta.
(...) Nos estudos, seja o que for que um homem imponha a si mesmo, cumpre-lhe estabelecer horas certas para eles; mas no que for agradável à sua índole, não se deve preocupar com horas determinadas, pois os seus pensamentos voarão para lá por si mesmos, de modo que lhe bastará estabelecer horário apenas para as demais ocupações ou estudos.
Francis Bacon, in "Ensaios Civis e Morais"
sábado, dezembro 03, 2011
QUE CONSENSO NACIONAL?
É sabido que nós estamos inseridos numa Europa que nunca foi realmente sufragada pelos portugueses. Fizeram-se acordos e tratados sem nunca ser dada a voz ao povo e apesar de muitos nos terem prometido um referendo, quando chegou a oportunidade houve quem recuasse com desculpas de mau pagador.
Foi-nos prometida uma Europa de oportunidades, uma união entre países solidários, um espaço inclusivo onde todos tínhamos voto na matéria.
À partida fomos forçados a abdicar de posições na agricultura e nas pescas, a troco de fundos que diversos governos desperdiçaram, e alguns usaram para tudo menos para a modernização do tecido produtivo. A moeda única acabou por cegar os órgãos decisores e foi o que se viu com o crédito fácil e barato.
Chegadas as primeiras dificuldades foi fácil constatar a falta de solidariedade, traduzida nas “ajudas” a juros bem compensadores, e no auxílio tardio. Os países mais expostos à divida externa e com um tecido produtivo mais fraco estão praticamente de rastos, e a Alemanha e a França passam a tomar as decisões sempre em reuniões bilaterais.
Agora temos o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, a pedir consenso nacional sobre o novo tratado. Dá vontade de perguntar, que tratado? Um tratado que está a ser cozinhado apenas pela senhora Merkel e pelo senhor Sarkozy?
Não sei de que consenso fala Paulo Portas, nem sequer acredito que os portugueses venham a ser consultados sobre isso. Será que o consenso de que fala o ministro continuará a ser a obediência cega às ordens do directório franco-alemão?
Esta Europa não é a Europa dos cidadãos, e que se saiba os portugueses não elegeram nem a senhora Merkel nem o senhor Sarkozy, nem deram legitimidade ao nosso governo para tomarem decisões sobre um novo tratado. A Democracia tem destas coisas, que são os limites da legitimidade dos governos.
sexta-feira, dezembro 02, 2011
MENTIRAS, OMISSÕES E HIPOCRISIA
Alguns portugueses bem se podem queixar da qualidade dos governantes que temos. A grande maioria não votou sequer em quem detém o poder, outros votaram neles mas foram iludidos pelo que eles diziam quando ainda estavam na oposição.
Podia aqui recordar mentiras para todos os gostos, invocando as palavras dos actuais membros do governo, tanto do PSD como do CDS, mas isso agora é irrelevante. As omissões na política são uma constante e são geralmente invocadas mais tarde para justificar a quebra de promessas, atirando-se sempre culpas para quem os antecedeu. A hipocrisia é o resultado final das duas premissas anteriores.
O que se passa com os cortes dos subsídios de Natal e de férias dos funcionários públicos e dos pensionistas, é o exemplo perfeito dos três pecadilhos de que vos falei anteriormente.
O que era uma tolice nas palavras de Passos Coelho na oposição, passou a ser inevitável agora que é 1º ministro. Os cortes no sector privado estavam fora de questão até à aprovação do Orçamento de Estado para 2012, mas logo depois já não haviam garantias nenhumas.
Se o PSD e o CDS saem mal na fotografia, com mentiras e omissões, a hipocrisia também salpica o PS, que veio cantar vitória com alterações minimalistas aos cortes. O pior estava para vir e surgiu também depois da votação do OE, quando alguns deputados do PS “descobriram” que estes cortes dos subsídios eram inconstitucionais, coisa que era mais do que conhecida de todos.
A política não pode ser feita com mentiras, omissões e tanta hipocrisia. Os cidadãos que são ao mesmo tempo contribuintes e eleitores, merecem ser respeitados por quem se candidata a lugares públicos. Quem não sabe respeitar os lugares que ocupa não merece também ser respeitado, e é esse o risco que corre quem julga que os portugueses aceitam continuar a ser enganados para todo o sempre.