Ao almoço, diante da travessa de cozido à portuguesa, éramos quatro a conversar sobre as últimas do país e do mundo. A conversa, com toda a naturalidade, versou essencialmente sobre a crise que a todos vai afectando e que, dizem os entendidos, pode vir a agudizar-se.
Para começo de conversa devo dizer que eu costumo ser o mais azedo do grupo, quando toca a zurzir em quem manda cá no pedaço e na economia mundial. Não admira que eu tenha aberto as “hostilidades” com a desconfiança perante as garantias de José Sócrates e de Teixeira dos Santos quanto à segurança dos depósitos dos portugueses.
As sensibilidades dos intervenientes é normalmente diversa na maioria dos temas, como diversas são também as actividades dos convivas, que vão desde o reformado (eu) com actividade liberal, ao bancário, o empresário e um quadro de uma grande empresa.
Com alguma surpresa, quanto ao assunto da confiança, o cepticismo é generalizado. O empresário para se aguentar já andou por Espanha, seguiu por Angola e agora anda pelo Dubai para conseguir manter a sua produção, já que as encomendas nacionais diminuíram cerca de 50% no último ano. O quadro superior admitiu que os despedimentos e a diminuição da actividade da sua empresa vão acontecer a breve trecho. O bancário lá veio dizer que o banco onde trabalha enfrenta níveis incomportáveis de crédito mal parado e falta de liquidez, estando agora a fomentar as poupanças e os depósitos a prazo oferecendo tarifas “muito vantajosas” aos grandes depositantes que têm capacidade negocial.
A tudo isto acrescento que as minhas dúvidas quanto às garantias do Governo são fundamentadas pelas declarações de Teixeira dos Santos quando disse que “aconteça o que acontecer, as poupanças dos portugueses em qualquer banco que opera em Portugal estão garantidas”, e quando questionado se a garantia dos depósitos era ilimitada, respondeu “foi o que eu disse”. Horas depois, tudo mudou, e o mesmo ministro veio afirmar que as garantias iam só até aos 50 mil euros, e por imposição da União Europeia, bem fresquinha.
No fundo, o que o Governo diz estar garantido são apenas os bancos “com relevância sistémica”, que convenientemente não precisa quais são, o que não descansa ninguém.
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