terça-feira, novembro 29, 2016

UMA PERGUNTA …

Foi-me enviada uma fotografia do quarto onde D. Manuel II pernoitou imediatamente antes de se dirigir à Ericeira para partir rumo ao exílio, e a pergunta que a acompanhava era: as paredes e até o tecto dum palácio, como o de Mafra, estavam assim cobertas com tecidos, normalmente, ou eram pintadas como as vemos agora?

Começo por esclarecer que o Palácio de Mafra era uma das diversas residências de Verão, e ocasionalmente durante os dias de caçadas recebia o rei e quem o acompanhava. Não sendo uma residência permanente, era natural que quando o rei ali se propunha dirigir, as coisas nem sempre estivessem em óptimas condições, e o recurso à cobertura das paredes com panos ou tapetes era um expediente utilizado.

No século XVI, por exemplo, era habitual verem-se tapeçarias a cobrir paredes, até porque ajudavam a tornar o espaço mais agradável. Não devemos confundir a utilização de sedas cobrindo as paredes, como se vê em alguns palácios (Queluz é um exemplo), porque nesse caso trata-se de um adorno decorativo considerado de muito bom gosto.


Como adorno ou apenas como um expediente de recurso, não era pouco habitual verem-se paredes e tectos cobertos com tecidos ou tapeçarias, especialmente em residências reais temporárias, mas não só.



domingo, novembro 27, 2016

MUSEUS - ENTRADAS GRÁTIS



Uma das alterações ao Orçamento de Estado para 2017, aprovada nestes dias, foi a voltarem a ser gratuitas as entradas nos museus nacionais aos domingos e feriados até às 14 horas, para todos os residentes em Portugal, e foi interessante registar que votaram a favor desta alteração todos os partidos, excepto o PS.

As notícias vindas a público na comunicação social deixam ainda algumas dúvidas, não só porque dizem que esta gratuitidade existiu até 2011, mas também porque acrescentam que são para “todos os cidadãos que residam em território nacional”.

Convém esclarecer que até 2011 vigoravam as entradas gratuitas “para todos”, sem excepção, até às 14 horas, aos domingos e feriados. É também de registar que a alteração feita a partir de 2011 se verificou com um executivo do PSD, em que na pasta da Cultura estava Francisco José Viegas.

Para que conste, é difícil determinar quem tem residência em território nacional, mas para os senhores deputados isso não passa de um mero detalhe, que vai originar algumas reclamações e uma trocas de palavras desagradáveis e desnecessárias nas bilheteiras dos museus.


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sexta-feira, novembro 25, 2016

O TRABALHO E O DINHEIRO

Uma das coisas que o tempo se encarregou de me ensinar foi o facto de ninguém enriquecer apenas com os proveitos do trabalho honrado. Já sei que me chamaram cínico, talvez porque exista alguém que o conseguiu, mas se virem bem serão bem poucos, e encaixam perfeitamente na classe das honrosas excepções.

É sabido que os portugueses têm trabalhado cada vez mais horas, cada vez mais se acumulam funções, e cada vez mais se penaliza a saúde e a família.

Os salários não esticam e cada vez mais estão desadequados. Quem se pode admirar que existam cerca de metade dos portugueses com falta de dinheiro para honrar os seus compromissos?

Quando falamos de riqueza geralmente referimos o que consta das estatísticas, e portanto à actividade legal e registada para efeitos fiscais, mas estamos a ignorar toda a economia subterrânea, que tem uma grande expressão no nosso país, como é sabido.


A redistribuição da riqueza é mal feita, apesar do que dizem os especialistas, e os políticos, e o resultado está plasmado nos estudos mais actuais em que se constata que há cada vez mais ricos, ao mesmo tempo que há mais gente em sérias dificuldades para levar uma vida decente, mesmo tendo emprego e não tendo hábitos consumistas.


quarta-feira, novembro 23, 2016

MUSEUS E MONUMENTOS BATEM RECORDES DE VISITAS

Este ano de 2016 tem sido muito bom em termos de turismo, e os museus e monumentos nacionais têm registado um muito elevado número de visitantes, que em alguns casos são mesmo recordes absolutos.

É preciso distinguir alguns números, porque é diferente considerar locais onde as entradas são grátis, e outros onde as entradas são pagas, ainda que em qualquer dos casos se verifiquem aumentos substanciais.


O caso do Mosteiro dos Jerónimos, que registou já o visitante 1 milhão, é de sublinhar, ainda que estejamos prestes a atingir o limite da capacidade do mosteiro, pelo menos no período do pico do Verão, o que já aconteceu também na Torre de Belém.


domingo, novembro 20, 2016

CURIOSAS MUDANÇAS

Quem visita nos nossos dias o Paço Real de Sintra, e passa à saída pelo Pátio Central, pode ver a Gruta dos Banhos, os seus azulejos e os tectos trabalhados, em gesso, mas não imaginará com toda a certeza que este espaço já esteve vedado, o que ainda pode ser verificado pelos pontos onde estavam seguras as portas (existem marcas visíveis nas cantarias), e pela foto abaixo, apesar do seu mau estado.


quarta-feira, novembro 16, 2016

CULTURA -MAIS PROMESSAS

Não podia deixar passar despercebido um anúncio da Direcção Geral do Património relativa à revisão dos planos de segurança de 23 monumentos, porque já aqui falei da falta de segurança dos funcionários e visitantes do nosso Património.

O anúncio feito no início do mês por João Seabra Gomes, responsável pelo projecto; “estamos a preparar planos de emergência actualizados para estes edifícios de acordo com as suas características específicas, e o objectivo é concluir no início de Janeiro, e depois iniciar a formação das respectivas equipas para lidar com as situações”, já é uma boa notícia.

Consultando alguns amigos que trabalham em museus e monumentos, inteiramente estatais, com gestão privada, ou totalmente privados, pude concluir que não houve qualquer contacto com os trabalhadores que estão no terreno diariamente, com o fim de se pronunciarem sobre questões de segurança no âmbito da feitura dos planos de segurança, e não tive conhecimento de nenhum serviço onde tenha existido, nos últimos 5 anos, qualquer formação em situações de segurança, ou simulacros com entidades como Bombeiros ou Protecção Civil.


A colaboração dos trabalhadores é essencial, não pode ser tudo planeado em gabinetes, a formação é indispensável e os simulacros devem ser periódicos e com a colaboração de entidades de segurança da zona de implementação dos equipamentos culturais.

A segurança no trabalho nunca é demais, e os visitantes dos equipamentos culturais merecem o melhor. Uma falha grave neste campo seria prejudicial para o turismo e esse tem sido o sector que melhor tem conseguido resistir à crise económica. 

segunda-feira, novembro 14, 2016

PATRONATO LUSO

Ferraz da Costa, ex-presidente da CIP, deu uma entrevista ao DN em que desanca no governo, que como se sabe não é do seu agrado, já que as suas preferências vão muito para a direita, mais precisamente para o pensamento de Donald Trump, um guru da economia, muito respeitador das suas obrigações enquanto patrão e contribuinte.

Este senhor que representou o patronato português, defende que se deve baixar os custo do Estado para se poder pagar menos imposto, mais objectivamente o IRC das empresas, à semelhança do que prometeu Trump.

Um Estado mínimo era o sonho deste tipo de empresários, já se sabe, e também se sabe que foi um defensor da privatização de muitas empresas que eram detidas pelo Estado, e que agora estão na mão de privados.

Nesta entrevista tive dificuldade em entender o pensamento deste iluminado, porque ele não hesitou em falar do peso excessivo da factura cobrada pela EDP, pela Galp, e pela PT, e essas são empresas privadas.

O tal Estado de que se queixa Ferraz da Costa, que detinha as empresas de energia e de telecomunicações, não pode num mercado liberalizado, como ele defende, interferir nos preços, a menos que queira arranjar novos encargos.

Quanto aos baixos salários a que muitos portugueses se têm que agarrar por motivos de sobrevivência, também não podem aumentar, porque muito patronato “amigo” do senhor Ferraz da Costa, se opõe a essa medida, como já se viu com o caso do ordenado mínimo nacional para 2017.


Já sabemos bem qual é o pensamento de Ferraz da Costa, e tudo passa pela desregulação das leis laborais, e pelos baixos salários, um pouco mais de lei da selva, onde o patronato dite as leis e o Estado tenha a seu cargo apenas a política assistencialista, que tanto agrada aos detentores do capital.


sábado, novembro 12, 2016

A CULTURA E AS PROMESSAS

Em períodos de aperto do cinto, a que muitos chamam crise económica, a Cultura, que já é um parente pobre da política, é a primeira a sofrer cortes, já que é considerada por muitos políticos. Incultos obviamente, um luxo dispensável.

Claro que na política há coisas que não se dizem em público, porque perante testemunhas promete-se muito, mesmo sabendo que pouco se realizará, porque não há milagres.

Há promessas para todos os gostos, desde o restauro dos carrilhões de Mafra, que deviam estar operacionais para o tricentenário, ou uma nova “caranguejola” (elevador) para permitir o acesso ao monumento por parte das pessoas com mobilidade reduzida, que agora foi prometida. Nova sinalética? Se for como a dos Coches, estamos falados...

No Museu dos Coches inaugurado em 2015, ainda não está implementado o plano museográfico, com os audiovisuais, e as barreiras que delimitam o espaço de protecção das carruagens que também ainda lá faltam hoje.


Não sei o que vai sair de novo para os lados da Ajuda, e qual a condição em que será explorado o que se construir, e também não sei se haverá vigilância electrónica no Museu de Arte Antiga, ou se o número de vigilantes irá aumentar, cobrindo as saídas para reforma e para outros ministérios do pessoal descontente.   

Nada disto é novo, é apenas mais do mesmo...

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terça-feira, novembro 08, 2016

OPINIÕES SOBRE SALÁRIOS



É curioso ler os comentários e as declarações das pessoas que na comunicação social falam sobre o aumento do salário mínimo, que não hesitam em afirmar que os aumentos pedidos podem ser prejudiciais para as empresas e para o emprego, e os argumentos de maior peso são sempre o da baixa produtividade nacional e o fraco crescimento da economia.

A curiosidade maior é que, os mesmo protagonistas que criticam o aumento do salário mínimo, são os defensores dos altos salários dos administradores da Caixa Geral de Depósitos, alegando neste caso que um bom banqueiro o merece.

Claro que podia exprimir a minha opinião, mas um cartoon também serve. 


sexta-feira, novembro 04, 2016

OS COMENTADORES E OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

É simplesmente ridículo ler frases do comentador que acha que é inconstitucional cortar salários contratados, por não ser possível retroactividade da lei, no que se refere aos administradores da Caixa Geral de Depósitos, quando no passado aplaudiu os cortes nos salários dos funcionários públicos. Nesta questão os pormenores são lixados, porque enquanto os funcionários públicos têm contrato com a entidade patronal, o Estado, os administradores nomeados para a CGD não o têm, por muito que se queira esconder o facto.

Também é penoso ler outro artigo, de outra comentadora, dizendo que este é”o Orçamento dos funcionários públicos e de (alguns) pensionistas. Diz a senhora que “é um problema puro de clientela” e que o governo terá de “manter os bolsos cheios dos que garantiram as vitórias eleitorais”.

Pobre senhora, que parte do princípio que a situação que o país atravessa é dos funcionários públicos, esquecendo-se duma certa classe política e duns quantos banqueiros e gestores bancários, que pelos vistos foram uns grandes beneméritos. Vai mais longe a senhora dizendo que “a governação devia assumir que os cortes salariais da era da troika eram definitivos”.


As contradições destes, e de outros comentadores do estilo, são evidentes e nem merecem uma classificação, porque teria que pecar por defeito, por razões de educação, mas há uma frase que vem mesmo a calhar: “pimenta no cu dos outros é refresco”.

Termino com a pergunta: será que os funcionários públicos são portugueses de segunda?


quarta-feira, novembro 02, 2016

EXIGÊNCIA DE TRANSPARÊNCIA NÃO É POPULISMO

A polémica em torno dos rendimentos dos novos administradores da CGD não pode ser considerada populismo, como pretende José Gomes Ferreira, mas sim uma exigência de transparência por parte de quem foi nomeado para gerir o banco público.

As questões de confiança dos mercados e outras do léxico dos economistas cá do burgo, não passam de ameaças (pouco) veladas do poder económico, que pretende ignorar a legislação nacional e o dever de transparência exigido a quem se propõe desempenhar um cargo numa empresa detida por capitais públicos.

Se o Governo se permitiu a prometer a esta administração um estatuto de excepção, errou redondamente, e terá culpas no cartório, mas também é certo que se a administração nomeada exigiu essas excepções, também merece esta rejeição por parte dos cidadãos e dos partidos políticos.


Quem semeia ventos colhe tempestades, é um ditado popular, e não populismo.