sábado, outubro 30, 2021

CONSEQUÊNCIAS DA PRECIPITAÇÃO

A decisão de avançar de imediato para eleições antecipadas, depois do chumbo da proposta de Orçamento de Estado, teve consequências de diversas naturezas e em diversos quadrantes.

Não consigo descortinar o que estaria na cabeça de Marcelo Rebelo de Sousa, mas não creio que tenha previsto o que resultou do seu acto, comprovadamente precipitado.

Quando muito vieram anunciar que a esquerda iria sofrer por causa do chumbo do OE, o que ficou imediatamente à vista foi a balbúrdia que se instalou na direita, onde a luta fratricida já começou a ter os seus efeitos, tanto no PSD como no CDS.

Sem querer, disso estou certo, Marcelo beneficiou o PS, que entrou imediatamente em campanha, dizendo que “vai dar” isto e aquilo, e que daria ainda muito mais se o OE tivesse sido viabilizado, e isso pode convencer boa porção do eleitorado menos informado.

As eleições vão ser férteis em ataques entre candidatos e em promessas a torto e a direito, mas o panorama eleitoral não se deve alterar muito, e nenhum partido deve conseguir a maioria absoluta o que conduzirá à necessidade de acordos ou alianças após as eleições.

Tendo como base o OE que foi chumbado, a direita não terá muito mais a oferecer a trabalhadores e pensionistas, nem a nível social, da saúde ou da educação. O PS sozinho não oferecerá mais do que estava nesse documento, e se necessitar do apoio da esquerda terá que ir um pouco além do que foi, pelo que Marcelo forçou eleições e a situação tem uma grande probabilidade de ser a mesma. 

 


 

quinta-feira, outubro 28, 2021

MARCELO E AS SUAS "GAFFES"

Marcelo já cometeu pelo menos dois ou três erros sucessivos no espaço duma semana e, de algum modo, isso deve vir a influenciar a sua acção nos tempos mais próximos.
 
Quando o Presidente afirmou que se o Orçamento de Estado não fosse viabilizado ficou desde logo limitado quanto às soluções que podia escolher, pois desde logo a possibilidade de apresentação dum novo OE, ficou inviabilizada.
 
Nas Marcelo não se ficou por aí, e logo de seguida veio dizer que iria imediatamente (logo, logo, logo) para eleições. Esta pressa a quase todos pareceu estranha e complicada para vários partidos.
 
No dia em que se discutia a viabilização (ou não) do OE, recebeu em Belém Paulo Rangel que pretende ser o líder do PSD, o que obviamente foi considerado inapropriado, especialmente naquele partido. É verdade que tentou desvalorizar o caso, dizendo que "o Presidente é como é, sou como sou", mas o mal estava feito.
 
Agora temos Paulo Rangel a "sugerir" legislativas para 20 ou 27 de Fevereiro, quando Marcelo tinha apontado para Janeiro, e todos aguardam pela decisão final, e se não for em Janeiro, não se livrará certamente de críticas de favorecimento, do partido e do candidato.
 
Marcelo "é como é", mas não se devia esquecer que é o Presidente de todos os portugueses.


 

segunda-feira, outubro 25, 2021

MARCELO FOI APRESSADO

Marcelo Rebelo de Sousa disse, mais uma vez apressadamente, que caso não houvesse uma aprovação do Orçamento de Estado para 2022 iria dissolver o Parlamento e marcaria eleições antecipadas. Nada o obriga a decidir isto, podia pedir para que fosse apresentado um novo OE (caso o Governo o aceitasse), ou podia tentar junto dos partidos uma solução que viabilizasse o actual OE, mas não foi essa a sua opção.
 
A pressa que parece existir, como se não houvesse nenhuma outra solução, é estranha pois todos sabemos que muitos países europeus funcionam sem problemas apesar da dificuldade de formar governo, basta só pensar na Alemanha onde a pressa é considerada má conselheira.
 
Com a antecipação das eleições nada nos garante que algum partido venha a obter uma maioria absoluta, e o mesmo problema pode voltar a verificar-se, e Marcelo parece desprezar a hipótese.
 
Na minha opinião Marcelo vai, involuntariamente, beneficiar o PS, que agora vai poder dizer que queria dar este mundo e o outro, e que não o deixaram fazer, e o PSD está mergulhado nas suas guerras internas arriscando mesmo a candidatar a 1º ministro um líder que está a ser contestado e que pode mesmo já ter sido substituído por outro. 

Marcelo falou cedo demais e agora é o responsável pelo que vier a  suceder...



 

quinta-feira, outubro 21, 2021

OS NEGACIONISTAS

O negacionismo é, grosso modo, a escolha de negar a realidade fugindo assim a uma verdade desconfortável ou inconveniente. Temos negacionistas que se recusam a aceitar aquilo que é empiricamente verificável, e outros que rejeitam aquilo que reúne o consenso científico, criando e difundindo ideias controversas e radicais.

O caso das vacinas contra a Covid é um exemplo bastante actual, mas não nos podemos esquecer também das mudanças climáticas, também estas na ordem do dia.

É curioso verificar que a maioria dos negacionistas rejeita tanto os benefícios das vacinas como as mudanças climáticas, parecendo viver noutra realidade diferente. Olhem que não estamos apenas a falar de Bolsonaro ou Trump.

 

Dois cartoons de Patrick Chappatte


 

domingo, outubro 17, 2021

GUILHERME SANTA-RITA

Um pintor modernista que é pouco conhecido, talvez porque deixou ordem expressa para que todos os seus trabalhos fossem queimados após a sua morte.

 
Cabeça
 
Perspectiva dinâmica de um quarto ao acordar



 

segunda-feira, outubro 11, 2021

A CARGA FISCAL SOBRE OS COMBUSTÍVEIS

Em Portugal temos combustíveis aos preços mais altos da Europa, e uma carga fiscal sobre eles que também é das maiores da União Europeia, simultaneamente temos uma das maiores discrepâncias salariais, que sendo baixos para a grande maioria dos trabalhadores faz com que mesmo os que trabalham e auferem salário vivam abaixo do limiar de pobreza.

Quando se ouve um ministro a dizer que descarta a descida de impostos sobre os combustíveis, falando em estabilidade e previsibilidade fiscal, a propósito do Orçamento de Estado de 2022, o mesmo em que o Estado se propõe aumentar os funcionários públicos nuns “astronómicos” 0,9%, dá vontade de o mandar àquela parte.

O aumento incessante dos combustíveis acompanhado pela vertiginosa subida do preço da electricidade conjugados, vai levar ao aumento de tudo o que compramos, desde os alimentos ao vestuário, transportes e outros bens de primeira necessidade.

O senhor ministro é um sondo ao falar de exportações e competitividade, pois os preços de produção vão subir, enquanto os salários vão baixando consistentemente tendo em conta factores como a inflação e a subida de produtividade em Portugal.

Os nossos políticos, tanto do Governo como da oposição, têm vindo a ter como política social o sistema de atribuir subsídios, como quem dá esmolas, em vez de cuidar de garantir salários decentes e menos desigualdade.

O resultado já está bem à mostra: o país está a ser atraído pelo radicalismo e pelos populismos, por já estar farto duma classe política em que não se revê por ter sido incapaz de resolver os seus problemas apesar das mais variadas promessas repetidas em todas as campanhas eleitorais. O lema começa a ser: venham outros! 


 

sábado, outubro 09, 2021

DEBATER SÓ O QUE ESTÁ NA BERRA

Tem estado na “berra” a discussão da nossa História, das navegações protagonizadas pelos portugueses e de tudo o que aconteceu até ao 25 de Abril de 1974.

É consensual que o História que aprendemos na escola foi sempre influenciada pelo poder político, que aumentou e glorificou o que quis, e demonizou aquilo que de algum modo podia afrontar a narrativa e a linha política que se pretendia impor. Isso foi e ainda é verdade, mas é sempre mais fácil e cómodo falar do passado.

Hoje tive a oportunidade de ler um extenso artigo sobre “O desconforto com as pinturas da sala de visitas da Assembleia”, no jornal Público, e senti que os pruridos da deputada Joacine estão um pouco deslocados, pois centraliza tudo em atacar gerações de portugueses que desde o século XII foram construindo e dirigindo uma nação, vivendo de acordo com os usos e costumes do mundo em que se inseriam, com defeitos e virtudes que são um apanágio do ser humano, só porque a deputada pretende fazer um julgamento dos seus actos à luz dos tempos em que vivemos.

Não sou contra que se coloquem legendas naquelas pinturas, o que aliás se devia fazer com todas as obras de arte, mas continuo a achar que é redutor levantar esse problema apenas para as obras de algum modo ligadas às descobertas e ao tempo da ditadura, como se só sobre essas pudessem existir coisas que devíamos dar a conhecer a todos.

Como agnóstico que sou, confesso que nunca me passou pela cabeça vir exigir ao Estado português que as pinturas e outras obras de arte de cariz religioso viessem a ser obrigadas a colocar legendas em tudo, de modo a ficar claro como a religião católica se comportou desde o início da sua constituição. Talvez pudessem contar as barbaridades praticadas desde Constantino, passando pela expansão marítima, pela Inquisição, e indo até aos casos de pedofilia dos nossos tempos.

A senhora deputada desconhece que na História há sempre duas visões sobre os acontecimentos em que houve confrontos entre povos, a dos vencedores e a dos vencidos, e não se pode impor a todos que tenham a mesma visão, porque certamente uns conseguiram algo que queriam e outros não, pelo menos nessa ocasião.

Para mim fica a ideia de que a deputada é portuguesa de nacionalidade mas continua agarrada ao passado e não consegue livrar-se dele, e quanto a isso nada se poderá fazer, porque é o futuro que queremos melhor, não o passado, que esse é imutável.

 

Francisco Rizi retratando um auto de fé na Plaza Mayor, Madrid, em 1680

Execução da poetisa protestante Anne Askew em 1546, em Londres, após tortura no potro.



 

sexta-feira, outubro 08, 2021

A INFLAÇÃO EM PORTUGAL

A propósito da proposta de aumento salarial dos funcionários públicos para 2022, o governo acenou a com a inflação prevista para 2021 no valor de 0,9%.

Em Portugal os estudos demoram sempre uma eternidade, mas o Instituto Nacional de Estatística tem sempre valores actualizados para a inflação, o que é muito conveniente para os governos, pois isso dá-lhes sempre uma almofada para as negociações dos Orçamentos de Estado.

Não quero colocar em causa os valores do INE, nem sequer depois duma pandemia como a que vivemos, mas é difícil de acreditar que a inflação do ano de 2021 fique nos anunciados 0,9%.

Alguns números conhecidos desmentem os 0,9%. Os custos da construção civil aumentaram imenso em 2020 e 2021, sendo que só neste ano aumentaram quase 7%, o mesmo se pode dizer das rendas, que não se compadeceram com  a pandemia e subiram mais de 11%, também os preços do imobiliaram estão a subir bastante mais de 6,5%. A produção industrial viu os preços subirem 11%, e nem vale a pena fazer as contas aos aumentos dos combustíveis e da energia porque não param de subir.

Falar em inflação anual e atirar com 0,9% como valor previsto para o ano de 2021, é estar a enganar os cidadãos, descaradamente.

Sites a consultar AQUI e AQUI