sexta-feira, dezembro 29, 2017

MERCADO LIVRE OU REGULADO?



O episódio triste dos aumentos previstos na EDP Comercial, que se seguiram ao anúncio governamental da baixa de preços da energia no mercado regulado, volta a trazer à baila o assunto da regulação, que para muitos é necessária, mas para alguns é desnecessária e indesejada.

Recordemos os argumentos apresentados pela EDP, que foram o preço do carvão, dos outros combustíveis, e a baixa pluviosidade que fez baixar a produção hidroeléctrica.

Esta empresa sofre de amnésia, muito conveniente, diga-se, e não refere que nos outros anos em que choveu bastante, em que os combustíveis fósseis atingiram valores mínimos no mercado internacional, e que não se traduziram em reduções de preços ao consumidor, o que seria normal para uma empresa séria.

Infelizmente não são apenas problemas como este que nos fazem recuar no tempo, e lembrar que muitos políticos e economistas há alguns anos falavam da virtualidade das privatizações, que infelizmente aconteceram. Todas as empresas públicas que davam lucro, (EDP, ANA, GALP, PT, CTT, etc.) foram vendidas a pataco, e agora continuam a dar lucro mas quase que só a interesses estrangeiros.

Aqueles políticos e economistas que participaram nas privatizações onde estão? Será que alguns não passaram uns tempos depois para os quadros das novas empresas, como gestores, altos quadros ou mesmo administradores das mesmas?

Quem é que me demonstra que os portugueses e o país ganharam com as tais privatizações? E quem é que ainda pretende convencer-me de que o mercado liberalizado é bom e justo, e que se regula a si próprio por causa da concorrência?   


quarta-feira, dezembro 27, 2017

MUSEUS, GESTÃO E AUTONOMIA

O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, afirmou há pouco tempo que pretende criar condições para uma maior autonomia dos museus, palácios e monumentos, possivelmente com a criação dum instituto público, o que a acontecer já não será nesta legislatura.

O senhor ministro não tem peso político, nem o atrevimento necessário para enfrentar a ditadura do Ministério das Finanças, convencendo o 1ª ministro da necessidade de dar alguma autonomia aos serviços, usando parte das receitas obtidas, responsabilizando, e motivando assim as direcções para uma gestão mais eficiente e a prazo.

O sistema actual em que a simples compra de lâmpadas ou o arranjo de instalações eléctricas ou canalizações, estão sempre dependentes de autorização prévia da DGPC, ainda que sejam coisas elementares e muitas vezes da máxima urgência.

A falta de margem de manobra, e a ausência total de poder de decisão, quando se trata de despesas, mesmo que correntes como as que descrevi, são absolutamente inexplicáveis e causam um desgaste que conduz à desmoralização de quem trabalha nos museus.


A criação da DGPC foi um erro monstruoso de quem desconhecia que já tinha sido tentada uma solução idêntica, o antigo IPPC, que demonstrou ser uma péssima opção. Esperemos que se discuta internamente uma opção mais ágil, envolvendo os trabalhadores, que na realidade são quem ainda vai conseguindo manter em funcionamento os serviços, apesar de todos os constrangimentos.

CARTOONS

Clássico

Modernista

terça-feira, dezembro 19, 2017

NOTÍCIAS CURTAS

Ordenado mínimo  - Foi hoje anunciado pelo governo que o ordenado mínimo nacional para 2018 será de 580 euros, e que não houve qualquer acordo posssível, já que os sindicatos pediam mais, e os patrões exigiam contrapartidas impossíveis de satisfazer.

Museus, palácios e monumentos  -   Segundo se pode ler no sítio da 
Direcção Geral do Património (DGPC), os museus, palácios e monumentos sob sua tutela estarão encerrados nos dias 24, 25 e 26 de Dezembro. Este deve ser dos anos em que a notícia foi dada tão cedo, e é pena que haja um jornal que esteja a noticiar que, segundo a DGPC, estes serviços estiveram abertos no ano passado no dia 31 de Dezembro e no 1 de Janeiro, quando este último dia é um dia de encerramento obrigatório há vários anos, conforme consta dos horários em vigor.

Pintura - Aguarela 

Reflections by Peak

Humor 

Dmitry Kononov - Russia

sábado, dezembro 16, 2017

SURREALISMO EM IMAGENS

Há quem tenha arte para nos mostrar o que não é comum e que nunca nos passou pela cabeça. Com uma máquina fotográfica na mão e muita inspiração é isso que faz Ben Zank, um artista que fiquei a conhecer através dum artigo no The Guardian, por causa duma exposição em que participou.

Sem Título by Ben Zank 

Alter ego by Ben Zank

quinta-feira, dezembro 14, 2017

O PATRIMÓNIO E AS MÁS NOTÍCIAS



Nos últimos meses o Património (museus, palácios e monumentos) só tem sido falado por más razões, o que só pode significar que as coisas não estão a correr bem.

O mau uso de monumentos, quer durante o horário de funcionamento (Jerónimos), quer durante cedências de espaços (Ajuda, Panteão, e Convento de Cristo), foi noticiado e comentado por todo o lado, e isso não é propriamente boa publicidade.

Outras notícias têm vindo a público, devido a más condições de conservação como sejam as referentes ao Templo Romano de Évora e agora do Convento de Cristo.

Já sei que para alguns serão apenas casos pontuais, e algumas condições extremas, mas ficará sempre a dúvida. O que acontecerá se alguém se lembrar de mandar verificar se o Palácio de Mafra reúne condições de segurança para visitantes e trabalhadores, devido à avançada degradação dos apoios dos sinos dos dois carrilhões?

A falta de recursos não pode ser a explicação para tudo, porque se algum dia se registarem vítimas e estragos de grande monta, todos quererão saber quem foram os responsáveis, e será a confusão total, tantos foram os silêncios e os que olharam para o lado…
 



sábado, dezembro 09, 2017

CITAÇÃO DA SEMANA

"Quando alguém se torna director de museu gosta de pensar essencialmente no estatuto. Tendo estas funções, prefiro ver-me como curadora porque é isso que me fascina e me estimula a trabalhar. Se tivesse de escolher uma palavra para descrever a minha profissão, seria curadora, não directora. É muito fácil um diretor perder de vista a própria arte. Ser curadora significa estar mais perto da arte, na maneira de a ver, pensar e entender. Gosto de partilhar este interesse comum pela arte, fascina-me estar com os artistas, entender o trabalho deles, visitar exposições e perceber porque é que algumas funcionam e outras não.”

Penelope Curtis in Observador

quinta-feira, dezembro 07, 2017

PATRIMÓNIO E COMPORTAMENTOS



Nas últimas semanas muito se tem falado dos maus comportamentos de alguns visitantes nos nossos museus e monumentos, e invariavelmente as discussões são muito acesas e as propostas são muito poucas.

A segurança do nosso Património depende de vários factores, alguns que são da responsabilidade dos museus e monumentos, e outros que dependem única e exclusivamente da educação e do civismo do público.

Dentro de cada museu ou monumento é necessário muito diálogo entre as equipas técnicas responsáveis pela exposição, e os vigilantes que conhecem melhor que ninguém o tipo de público que cada serviço recebe, e quais a dificuldades que enfrentam no seu dia-a-dia. A consulta de especialistas em segurança e respectivos equipamentos, e a troca de experiências com pessoal de outras instituições similares de referência, também são recomendadas.

Fora de portas também há muito que pode ser feito, desde logo nas escolas, que são parceiros privilegiados na formação de públicos. O Ministério da Cultura pode também fazer mais aproveitando sinergias de outros sectores que tutela, podendo fazer, por exemplo, pequenos sketches humorísticos (sempre melhor aceites), sobre comportamentos pouco recomendáveis dentro de museus e monumentos, a exibir em separadores da televisão pública em horário nobre.

É preciso semear para depois colher… 



segunda-feira, dezembro 04, 2017

FANATISMO RELIGIOSO

Na sequência da expulsão dos judeus de Portugal, por decreto de 5 de Dezembro de 1496, só lhes restavam duas opções, sendo a mais óbvia a fuga, e depois a conversão proposta por D. Manuel para se evitar a fuga de capitais do país.

A opção da conversão, em muito facilitada por D. Manuel que tentou proteger ao máximo os cristãos-novos, tentando a sua integração na sociedade portuguesa, encontrou dois obstáculos, o primeiro a resistência natural dos judeus, e outro mais perigoso, que era a intolerância religiosa.

A 19 de Abril de 1506, domingo de Pascoela, e segundo Damião de Góis, os cristãos-velhos reunidos na Igreja de S. Domingos, à espera de um milagre anunciado, terão visto uma luz a brilhar no cruxifixo da igreja, mas houve uma pessoa que terá dito tratar-se dum reflexo das candeias acesas na igreja. Tratava-se de um cristão-novo, o que para a populaça significava que era um judeu, pelo que foi arrastado pela rua e queimado no Rossio, bem como o irmão que teria vindo em seu socorro.

Um frade dominicano fez um discurso contra os judeus, logo secundado por dois frades, Frei João Mocho e Frei Bernardo, que gritaram “Heresia! Heresia! Destruam o povo abominável!” e incendiaram os ânimos da populaça.


A isto seguiu-se um massacre, e a turba arrombava as portas, em busca de cristãos-novos, violando e matando milhares de pessoas (António Borges Coelho), e carregaram mortos e vivos para fogueiras ateadas no Rossio e na zona ribeirinha. A matança e a pilhagem duraram 3 dias seguidos. 



Uma das duas únicas gravuras sobreviventes ao Terramoto de Lisboa 1755 e ao incêndio da Torre do Tombo: “Da Contenda Cristã, que recentemente teve lugar em Lisboa, capital de Portugal, entre cristãos e cristãos-novos ou judeus, por causa do Deus Crucificado”

sábado, dezembro 02, 2017

O PATRIMÓNIO E AS SUAS POLÉMICAS



Já nos recompusemos do caso do jantar (de mau gosto) no Panteão Nacional, e do jantar (superpovoado) no Palácio da Ajuda, e eis que aparecem mais alguns casos que nos fazem recordar tudo.

As obras em curso no exterior do Palácio da Ajuda, com vista ao fecho do edifício que servirá de museu da jóias da coroa, parece que não aparentam grande segurança, e já houve quem as pusesse em causa, exactamente por motivos de segurança. Pelo que li os cidadãos que acham que o palácio pode estar em perigo, pedem agora ao 1º ministro uma avaliação urgente e independente, a realizar pelo Laboratório de Engenharia Civil.

Por outras paragens, mais precisamente em Alcobaça, existe um conflito latente entre a direcção do Mosteiro, a DGPC, e a paróquia, estando em causa a colocação duma porta de vidro numa capela. Este conflito entre os responsáveis do Património e a Igreja é sempre possível nos monumentos classificados e abertos ao público, onde a paróquia local pretende continuar a fazer o seu culto e a ter a devida privacidade, ainda que não queira assumir responsabilidades na conservação da igreja e de outros espaços de apoio ao culto. É o delicado problema das relações entre o Estado e a Igreja, que não é fácil de resolver.

Já agora, e só porque se falou de garantir a segurança do Palácio da Ajuda, talvez venha a propósito falar-se das condições de segurança do Palácio de Mafra, atendendo ao (mau) estado em que estão os suportes dos sinos das duas torres que ladeiam a Basílica, neste momento (e há vários anos) suportados por andaimes. Existe algum estudo recente, independente, atestando a segurança do edifício, dos visitantes e dos funcionários?