sexta-feira, março 31, 2017

A BANCA E A CULTURA

No dia em que se fala da venda do Novo Banco, e em que se ouve da boca de António Costa que “não há novos encargos para os contribuintes”, importa reflectir um pouco no que se passa em Portugal, com os bancos (não só este) e a Cultura.

Os portugueses já ouviram garantias semelhantes no caso de outros bancos, e todos sabemos que depois as coisas não foram bem assim, e lá fomos chamados a pagar os prejuízos dos bancos, pois o Estado somos nós. No caso do Novo Banco é preciso não esquecer o que já lá foi injectado em dinheiros públicos, em mais do que uma ocasião, e que na melhor das hipóteses só começará a ser pago daqui a umas décadas.

Enquanto a Cultura, em Portugal, só “merece” uma fatia do Orçamento de Estado que não ultrapassa os 0,3% do PIB, os bancos, que na sua maioria eram privados deram durante muitos anos grandes lucros aos seus accionistas, e pagaram muitos milhões aos seus gestores, levaram nestes últimos anos uma fatia muito maior do nosso PIB, obrigando o país a endividar-se lá fora, aumentando assim a nossa dívida pública.

Os tais bancos que o Estado ajudou, e nos está a custar muito, estão nas mãos de estrangeiros, a Cultura continua a não ter verbas para manter os nossos monumentos, a não ter dinheiro para realizar grandes exposições, e a não conseguir preencher os quadros dos museus e monumentos por constrangimentos económicos.


Será que alguém acha mais bem empregue o dinheiro “enterrado” em bancos que hoje são estrangeiros, do que o dinheiro empregue na recuperação do Património e na sua valorização?


quarta-feira, março 29, 2017

segunda-feira, março 27, 2017

PORMENORES

O que mais me chama a atenção nos monumentos, depois da sua história, são sem dúvida os detalhes, e é por isso que aqui vos deixo dois detalhes de dois diferentes monumentos. Divirtam-se a identificar os ditos monumentos...

Lanterna

Janela

sábado, março 25, 2017

BIBLIOTECAS

As conversas são como as cerejas, e ao falar de bibliotecas antigas e monumentais eis que surgem uns quantos nomes, e outras tantas descrições, bem como as inevitáveis comparações, que esbarram sempre com os gostos de cada um, e a autenticidade do que hoje se vê e o que elas eram quando foram criadas. São todas belas, mas umas são nossas...

Biblioteca de Mafra

Biblioteca Joanina (Coimbra)

Biblioteca de Codrington (Oxford) 

Esta é a biblioteca do Trinity College Dublin (Irlanda)

quinta-feira, março 23, 2017

AS FARPAS

"Excerto de "As Farpas" de Eça de Queirós, 146 anos depois...

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»


Escrito em 1871, por Eça de Queirós, no primeiro número d'As Farpas.

Elevador do Carmo (2010) by Palaciano

Convento do Carmo (2010) by Palaciano

terça-feira, março 21, 2017

UM CHAFARIZ EM BELÉM

Já não está no mesmo local mas é sempre bom recordar pedaços da História deste Portugal.

Chafariz de Belém 1940


domingo, março 19, 2017

A DERROCADA NOS JERÓNIMOS

"Um triste acontecimento commoveu ha poucos dias Lisboa e o resto do paiz. Abateu o corpo central da nova galeria em construcção junto ao magnifico templo dos Jeronymos, e que constituindo a frente da Casa Pia, estava a ponto de concluir-se depois de longos annos de trabalhos e de muitos capitaes dispendidos, devendo então, com o monumento que recorda os nossos feitos passados, constituir um todo harmonico, especimen d'essa architectura maravilhosa que hoje asignala a gloriosa epocha de D. Manuel I, d'onde tirou o nome.

O desmoronamento teve logar no dia 18 de dezembro pelas 9 horas da manhã, e do altivo torreão que já se elevava aos ares perto talvez de trinta metros, apenas resta hoje de pé, quasi intacto felizmente, o corpo inferior, como a nossa gravura o representa, salvando-se a varanda gothica, de admiravel desenho, e o portico ligeiramente damnificado. Poucos dias antes fôra collocada no nicho superior á primeira varanda, uma magnifica estatua da Caridade, cinzelada pelo distincto esculptor Simões de Almeida, e essa mesma teve a cabeça decepada.

N'este desastre houve sobretudo a lamentar a morte de oito vidas. Oito dos trabalhadores que lidavam na obra, não podendo fugir a tempo, foram colhidos pela derrocada, ficando soterrados n'aquella pesada mole de areia e de cantaria...Lamenta-se que, depois de oito vidas de pobres trabalhadores, se hajam perdido com o desastre centenas de contos de réis, quando era talvez melhor ter deixado de os empregar de semelhante fôrma. Em todo o caso o que seria hoje um absurdo maior era reedificar o torreão derrocado pelo plano primitivo. Não pode ser: é preciso que a opinião dos homens competentes intervenha e que o edificio levantado ao lado dos Jeronymos mostre ao menos que no nosso tempo ainda se comprehende a harmonia architectonica d'aquelle magnifico templo."

in O Ocidente : revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, N.º 25 ( 1 Jan. 1879) 


Gravura anterior à derrocada

Gravura depois da derrocada

Fotografia depois da derrocada

sexta-feira, março 17, 2017

MAFRA

No Palácio Nacional de Mafra existem muitos recantos e espaços que, devido ao gigantismo da edificação, ou não são visitáveis no percurso normal de visita, ou então passam despercebidos numa visita normal.

Na foto a cores (tirada com o telemóvel) pode ver-se o altar da capela do torreão da rainha, e nas outras duas, a preto-e-branco está parte da maquinaria dos carrilhões, que infelizmente ainda aguardam as obras de restauro, e que não fazem parte do percurso normal de visita. 

Para alguns nada disto é novo, mas para a grande maioria pode ser um bom aperitivo para uma visita a agendar proximamente...

Uma pequena capela

Carrilhões manuais

Relógios e carrilhões mecânicos

quarta-feira, março 15, 2017

ACREDITAM NAS AVALIAÇÕES?

Eu ainda me recordo das críticas que existiam há uns anos acerca das avaliações na função pública, quando todos malhavam sempre que lhes dava na gana. Falavam do mérito e do rigor enchendo a boca de conceitos que diziam existir (?) no sector privado.

Há poucos dias foi notícia que o novo modelo de avaliação no Novo Banco prevê quotas, o que para todos significa um afunilamento de subidas nas carreiras. Claro que têm razão os críticos deste tipo de avaliações com quotas, que permite que numa equipa de vários elementos existam uns que recebem boas avaliações e outros avaliações mais baixas, apesar de todos colaborarem num mesmo objectivo.

O que importa salientar em tudo isto é que é esse o sistema usado na última década na função pública, que nunca mereceu as parangonas dos jornais e a indignação pública que agora temos visto.


Por vezes só passando pelas situações é que se vê a iniquidade dos processos de avaliação baseados em quotas. 


segunda-feira, março 13, 2017

ERROS DE PALMATÓRIA

O conflito entre países europeus e a Turquia, derivado da campanha para as eleições neste país, tem sido notícia nos últimos dias.

Se impedir a campanha de um país em território de outro pode ser aceitável, impedir ministros estrangeiros de entrar no país para contactar os seus cidadãos, não me parece que seja muito correcto.

Países como a Holanda, a Alemanha, a Suécia e a Áustria decidiram suspender os comícios nos seus países, e a Turquia acabou por ameaçar retaliar politicamente e economicamente.

Depois de ter recusado a entrada da Turquia na União Europeia, ainda que economicamente existam muitas empresas europeias a produzir os seus produtos em solo turco, só faltava mesmo à Europa atirar a Turquia para os braços de Moscovo, por pura inabilidade diplomática.

As restrições à imigração e agora estas atitudes que podem ser confundidas com sentimentos islamofóbicos, isolam cada vez mais a Europa do resto do mundo.  

Como diria Don Vito Corleone: mantenha os amigos por perto; e os inimigos mais perto ainda. 
  


sexta-feira, março 10, 2017

OS CARRILHÕES DE MAFRA

Há algum tempo falei numa rede social sobre o facto de ainda não terem sido restaurados os carrilhões do Palácio Nacional de Mafra, estando-se na altura a entrar no ano dos festejos do tricentenário deste monumento, e além de algumas críticas recebi também uma informação, não oficial, de que o restauro estava para breve, ainda durante este ano de 2017. No mesmo sentido li uma notícia no DN.

Não sei se as obras de restauro vão enfim avançar, porque o concurso para adjudicação parece que foi contestado e depois a contestação deu em nada, mas até ao último fim-de-semana, nem sinal de obras.

É bom recordar que o parecer dos peritos sobre o mau estado dos carrilhões dizia: “as principais causas da deterioração das torres e dos seus conteúdos foram a falta de serviços regulares de manutenção e o restauro inadequado a que foram sujeitas no passado, para além de um meio ambiente marítimo relativamente agressivo. A corrosão severa de partes do sistema sineiro, nomeadamente dos martelos, matracas e suportes, criou o perigo de queda.”


A preços de 2014 o arranjo estava estimado em aproximadamente 2.500.000 euros, não sei quanto poderá custar hoje, nem sei se o risco de queda dos sinos e das torres é elevado, moderado ou inexistente, mas confesso que estou preocupado, porque estamos a falar do nosso Património. 

Fotos retiradas da Internet


terça-feira, março 07, 2017

ALERTAS NO TURISMO

Sei que muitos já deixaram alertas sobre os perigos que o turismo nacional enfrenta, especialmente nas grandes urbes como Lisboa e Porto, onde a autenticidade do que oferecemos se vai perdendo, porque a oferta começa a ser igual à que se encontra noutras capitais europeias.

Fala-se do arrendamento de curta duração, que afasta os nacionais dos bairros típicos, que assim deixam de o ser pois o que mais se vê são turistas, lojas de souvenirs, restaurantes de fast food, menus estrangeiros e os tão tipicamente portugueses tuk-tuks.

O triângulo formado pelos habitantes, a oferta gastronómica e o Património histórico e paisagístico, fica imensamente reduzido, mas não é tudo.


O perigo mais recente, que quem trabalha com estrangeiros já começa a ouvir com demasiada frequência, é o aumento dos preços da hotelaria, sobretudo do alojamento, que começa a afastar mais uma das vantagens do Turismo nacional.  


sábado, março 04, 2017

CITAÇÃO

Num mundo cada vez mais frio e calculista, de contratos e negociações, de propostas e contrapartidas, arriscamo-nos a perder o que nos resta da nossa natureza e da nossa humanidade. Dar sem esperar nada em troca e receber sem sentir a obrigação de retribuir é a nossa única salvação. E é tão fácil que até chateia.

Miguel Esteves Cardoso

Hibisco

sexta-feira, março 03, 2017

INFORMAÇÃO EM MUSEUS, PALÁCIOS E MONUMENTOS

Uma das falhas mais apontadas pelos visitantes nacionais e estrangeiros, aos nossos museus, palácios e monumentos, é a falta de informação. Convenhamos que em alguns serviços a informação é escassa, por vezes em suportes antiquados, e sobretudo em poucas línguas.

Este assunto é sempre controverso porque será sempre impossível agradar a todos, como se sabe. Muitas vezes para se dar toda a informação sobre uma sala teria que se ocupar imenso espaço, o que prejudicaria a exposição e causaria uma concentração de pessoas a consultar as tabelas, que prejudicaria a fruição e a fluidez do movimento dos restantes visitantes.

Nos nossos dias existem suportes que podem obviar estes problemas, porque basta existir uma App que após a sua descarga para um simples smartphone, ultrapasse o problema. O aluguer de áudio-guias é outro meio de disponibilizar informação mais detalhada a quem a procura.


Nada disto é novo, e podemos aprender com os museus que são referências de qualidade, como o Louvre, por exemplo, e afinal são coisas que até nem custam muito dinheiro e não são difíceis de conseguir.


quarta-feira, março 01, 2017

APOSENTOS REAIS

Muita gente conhece o Palácio Nacional de Sintra, um dos antigos palácios reais que mais visitas recebe, e certamente o mais antigo ainda existente.

Quando se lê sobre a utilização deste monumento fica a saber-se que foi usado até 1910, altura em que foi implantada a República em Portugal.

O que é visto no percurso museológico são espaços carregados por séculos de História, o que se compreende, e a utilização das últimas décadas é esquecida aqui, porque pode ser melhor contada noutros espaços construídos mais tarde.

A actual Sala Manuelina já foi o local dos aposentos do rei, que Raúl Lino destruiu na década de 30 do século passado, e o mesmo aconteceu aos aposentos do príncipe D. Afonso (O Arreda) que se situavam na Sala das Galés.


O espaço dos aposentos da rainha, já com as marcas de Maria Pia (tecto do quarto de dormir), ainda existe, mas não são visitáveis nem estão devidamente decorados.