quarta-feira, abril 28, 2021

O DISCURSO DE MARCELO

Não aprecio Marcelo, enquanto político, respeito-o q.b. enquanto detentor do cargo que ocupa, apesar da imensidão de coisas em que discordamos completamente, mas o seu recente discurso no 25 de Abril foi certeiro e devia dar que pensar a muita gente que se acantona nas suas posições extremadas.

Há quem se recuse a aceitar que “não se pode olhar para a realidade do passado com os olhos de hoje”, que é um princípio salutar para quem quer ter uma visão histórica mais isenta e fundamentada. Curiosamente são estes mesmos que logo em seguida suportam as suas opiniões em factos históricos para suportar ideias de que fomos isto e aquilo e tão ou piores do que os outros.

Só num mesmo jornal pude ler dois artigos de opinião sobre o discurso de Marcelo em que os autores dizem que é impossível seguir a ideia expressa do Presidente, por este ou aquele motivo.

O passado de Portugal teve muitos aspectos mais ou menos discutíveis, ou mesmo censuráveis aos olhos dos nossos dias, que qualquer cidadão pode verificar estudando um pouco a nossa quase milenar História enquanto nação. Claro que a memória é curta (ou o conhecimento) e os factos mais recentes são os que mais atraem os que preferem autoflagelar-se com o que se passou nos últimos tempos (que a maior parte deles nunca vivenciou).

Falar dos problemas do colonialismo, e das condições de vida dos nativos, bem como dos horrores da guerra, desconhecendo que a independência dos territórios era um desejo de todos, independentemente da cor da pele, desprezar as condições de vida no Continente de boa parte dos portugueses, e os actos de terrorismo que iam sendo praticados, é fugir à verdade.

Falar da escravatura, do trabalho forçado e omitir o que se avançou nesse campo durante a década de 60 e inícios da década de 70, bem como o desenvolvimento daqueles territórios onde a modernidade e as condições de vida eram tão boas ou melhores das que se viviam aqui, e com os mesmos defeitos e fraquezas que cá existiam, o que não é alheio ao regime que vigorava, que era o mesmo.

Os nossos bairros da lata mostravam pessoas que estavam excluídas do progresso, da dignidade humana, e do ensino que as poderia fazer sair da miséria. O que se passava em África passava-se por cá, e a taxa de analfabetismo era mais ou menos igual. A exploração que lá existia era a mesma que existia por cá.

Se houver o cuidado de fazer um escrutínio sério, de se ponderar bem quais os pontos de partida e o que existia nas últimas duas décadas do fascismo, por cá e nas ditas colónias (Províncias Ultramarinas), talvez cheguemos a uma conclusão bastante diferente da que se pretende fazer passar com os discursos miserabilistas que têm sido quase uma constante. 

 

Fotos de Fernando Mariano Cardeira - anos 60 Lisboa



 

OLHARES



 

segunda-feira, abril 26, 2021

PRODUTIVIDADE E MÉRITO EM PORTUGAL

A discussão sobre a produtividade em Portugal, é um assunto recorrente mas nunca se chega a nenhuma conclusão séria, porque dizer que os portugueses produzem pouco em Portugal, bate de frente com o que é reconhecido noutros países relativamente aos portugueses que por lá labutam.

Na primeira linha temos os meios postos à disposição pelo patronato em Portugal, que em comparação com o que se passa lá fora, deixa muito a desejar.

Os problemas de organização e do reconhecimento do mérito são menos discutidos porque dentro das empresas portuguesas há pouco diálogo, e o assunto não pode ser discutido como deve ser, fora do contexto.

Outro aspecto que passa ao lado das discussões sobre a produtividade é a fuga aos impostos, que distorce completamente os dados estatísticos.

 




 

sábado, abril 24, 2021

A UTOPIA E A REALIDADE

Estamos a comemorar o 25 de Abril, mas cada um comemora à sua maneira e valoriza o que lhe agradou e nem sempre isso foi igual para todos, tal a diversidade que compões a Liberdade.

O que se passou em 74 e o que se seguiu nos anos quentes, mudou o país e mudou as pessoas, para uns foi o que esperavam, para outros significou vidas destruídas, novos recomeços desilusões, ilusões, até que a realidade se veio a impor.

As cantigas de Abril tinham o seu cunho de insatisfação, desejo de mudança, aspiração dum mundo melhor, mas rapidamente o cariz político partidário começou a ficar evidente. O poder popular começou a evidenciar a ganância de uns a vontade de dominar de outros, as facções iam-se extremando e criaram-se os redutos políticos.

A normalidade das instituições foi tomando forma, e a utopia começou a fenecer perante a realidade que se foi impondo, primeiro timidamente e depois com toda a força. Os desejos de igualdade de direitos, de justiça social, de melhor repartição da riqueza foram sendo esmagados pelo que antes se chamava, capitalismo.

A Liberdade não é um dado adquirido e tem de ser cultivada a cada dia, com a participação cívica de todos. As nossas opiniões podem ser diversas, mas são importantes na procura duma vida melhor. Os políticos e os partidos não podem andar em roda livre, podem e devem ser escrutinados por todos, e temos nas nossas mãos o poder de os derrubar, e não é só nas eleições, mas sim com a nossa participação, apoiando, repudiando ou comentando livremente a actualidade.

Frase – “Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.”

Leon Tolstoi  


 

quinta-feira, abril 22, 2021

BIBLIOTECA DE MAFRA E OS MINISTROS

Uma das salas mais emblemáticas do Palácio Nacional de Mafra é, sem qualquer dúvida, a sua Biblioteca, uma das mais bonitas do mundo, e também com um espólio único da época que tem à sua guarda.

É conhecida a escassez de meios, gritante mesmo, de meios humanos e financeiros em todos os museus, monumentos e palácios dependentes do Ministério da Cultura, e a Biblioteca de Mafra não é alheia a essa realidade.

As faltas de meios e alguma inércia dos responsáveis de toda a estrutura (M.C., DGPC e PNM), tem contribuído para que a situação não tenha melhorado nos últimos anos, apesar das necessidades duma Biblioteca com livros tão antigos e em grande quantidade.

Foi curioso registar que hoje foi realizada uma reunião do Conselho de Ministros dedicada à Cultura, em que se viam os participantes sentados em redor duma grande mesa, devidamente separados por placas de acrílico como mandam as regras da DGS. Os visitantes deste palácio têm à sua disposição durante a visita, um pequenos espaço à entrada da mesma “por razões de segurança”, que têm que ver com a não existência de barreiras de defesa dos livros (placas de acrílico possivelmente), e talvez também para não haver grandes variações de humidade relativa que calculo sejam prejudiciais, mas não em reuniões de gente tão ilustre.

 Enfim, isto não passa dum desabafo de quem gosta do nosso Património.  

 

Foto do site do Jornal de Mafra

 

domingo, abril 18, 2021

DISCRIMINAÇÃO DESCARADA

Quando se vê diversos grupos a lutar contra a discriminação, de género, de etnia, de religião, ou outra qualquer, em Portugal temos também uma discriminação por idade, e pasme-se, no campo da saúde.

As vacinas que são suspeitas de causar problemas de coagulação deixaram de ser administradas a pessoas com idade inferior a 60 anos. Uns diziam que seguiam indicações das autoridades europeias de saúde, mas isso foi desmentido por não existir uma única indicação nesse sentido da EMA, nem sequer da OMS. Houve quem dissesse que era porque não se tinham verificado casos dessa natureza nesse grupo etário, mas matematicamente isso era natural pois o universo de vacinados idosos com aquelas vacinas era também muitíssimo menor.

O que todas as autoridades de saúde disseram claramente é que os casos verificados eram extremamente raros e que o risco/benefício aconselhava a toma da vacina, mesmo assim ela passou a ser administrada apenas aos mais idosos. Será justo que uma vacina fiável e segura (palavras usadas pelas autoridades de saúde) não seja para todos? Quem encara a possibilidade de administra uma dose duma vacina e outra dose de outra que utiliza uma tecnologia diferente (algo não suficientemente testado) quer fazer crer que os mais velhos não estão a ser discriminados?

Portugal nesta matéria tem ainda uma particularidade nesta discriminação, que é “a lotaria das vacinas”, que traduz na não indicação da vacina que vai ser administrada aos idosos, quando são chamados para vacinação, criando-se uma rotação das vacinas para transformar este acto numa autêntica lotaria, ou roleta russa se preferirem.

Um Estado que é o único que pode comprar vacinas para esta pandemia, estando por isso numa posição monopolista, pratica também uma imposição aos cidadãos de terem de aceitar a vacina que for determinada, sob pena de não ser vacinado nos próximos tempos, tirando-lhe qualquer hipótese de escolha razoável.

Afinal temos uma DITADURA DE ESTADO nas vacinas.