Não aprecio Marcelo, enquanto político, respeito-o q.b. enquanto detentor do cargo que ocupa, apesar da imensidão de coisas em que discordamos completamente, mas o seu recente discurso no 25 de Abril foi certeiro e devia dar que pensar a muita gente que se acantona nas suas posições extremadas.
Há quem se recuse a aceitar que “não se pode olhar para a realidade do passado com os olhos de hoje”, que é um princípio salutar para quem quer ter uma visão histórica mais isenta e fundamentada. Curiosamente são estes mesmos que logo em seguida suportam as suas opiniões em factos históricos para suportar ideias de que fomos isto e aquilo e tão ou piores do que os outros.
Só num mesmo jornal pude ler dois artigos de opinião sobre o discurso de Marcelo em que os autores dizem que é impossível seguir a ideia expressa do Presidente, por este ou aquele motivo.
O passado de Portugal teve muitos aspectos mais ou menos discutíveis, ou mesmo censuráveis aos olhos dos nossos dias, que qualquer cidadão pode verificar estudando um pouco a nossa quase milenar História enquanto nação. Claro que a memória é curta (ou o conhecimento) e os factos mais recentes são os que mais atraem os que preferem autoflagelar-se com o que se passou nos últimos tempos (que a maior parte deles nunca vivenciou).
Falar dos problemas do colonialismo, e das condições de vida dos nativos, bem como dos horrores da guerra, desconhecendo que a independência dos territórios era um desejo de todos, independentemente da cor da pele, desprezar as condições de vida no Continente de boa parte dos portugueses, e os actos de terrorismo que iam sendo praticados, é fugir à verdade.
Falar da escravatura, do trabalho forçado e omitir o que se avançou nesse campo durante a década de 60 e inícios da década de 70, bem como o desenvolvimento daqueles territórios onde a modernidade e as condições de vida eram tão boas ou melhores das que se viviam aqui, e com os mesmos defeitos e fraquezas que cá existiam, o que não é alheio ao regime que vigorava, que era o mesmo.
Os nossos bairros da lata mostravam pessoas que estavam excluídas do progresso, da dignidade humana, e do ensino que as poderia fazer sair da miséria. O que se passava em África passava-se por cá, e a taxa de analfabetismo era mais ou menos igual. A exploração que lá existia era a mesma que existia por cá.
Se houver o cuidado de fazer um escrutínio sério, de se ponderar bem quais os pontos de partida e o que existia nas últimas duas décadas do fascismo, por cá e nas ditas colónias (Províncias Ultramarinas), talvez cheguemos a uma conclusão bastante diferente da que se pretende fazer passar com os discursos miserabilistas que têm sido quase uma constante.
Fotos de Fernando Mariano Cardeira - anos 60 Lisboa
Quando a ideologia os cega ou a necessidade de ser politicamente correcto os obriga, nada a fazer, ficam cegos.
ResponderEliminarMadala