Nas últimas duas décadas tem
vingado em Portugal a teoria de que o que é público é mal gerido, é despesa e
se resume a desperdício e burocracia, por oposição ao sector privado, onde se
encontram os melhores exemplos de gestão, onde se minimizam os desperdícios e
onde a produtividade é maior.
A teoria não tem pés nem cabeça e
leva-nos a pensar que temos dois tipos de portugueses, os que estão no sector
público, e os que estão no sector privado, e que têm mentalidades e capacidades
diferentes. Claro que a teoria foi lançada por quem tem objectivos concretos,
que até já ocorreram, que se resumiram à entrega dos sectores mais lucrativos,
que estavam no domínio público, a privados para onde depois se bandearam muitos
políticos que abraçavam e defendiam a teoria.
É curioso que muitos dos gestores
públicos passaram para o sector privado, e vice-versa, mas a teoria continuava
a ser defendida pelos mesmos “iluminados”.
O sector bancário tem sido um exemplo perfeito da
inadequação da teoria e da sua falta de consistência. Este sector foi e é
responsável por grande parte dos nossos problemas económicos e os casos do BCP,
BPN, BPP, BANIF e agora do BES, para não falar do recurso da maioria dos bancos
a empréstimos com o aval do Estado, são a prova evidente de que a tal dicotomia
não existe, e que só um Estado forte e despartidarizado seria capaz de
controlar os desmandos económicos a que o liberalismo extremo nos tem
conduzido.