terça-feira, fevereiro 19, 2008

A HIPOCRISIA DAS DESCULPAS

Habituei-me a respeitar o jornalista Mário Crespo pela serenidade com que comenta os mais diversos assuntos nos órgãos de comunicação social, mesmo quando não concordo com algumas das suas opiniões, como é o caso de hoje, referente a um artigo que tive a oportunidade de ler no JN, sob o título “Brutalidade da descolonização merece pedido de desculpas”.

Na história de quase todos os povos podemos encontrar episódios, ou mesmo fases, em que os factos à luz dos nossos olhos, hoje, nos suscitam condenação absoluta. Podia aqui referir as cruzadas, a inquisição, a escravatura, e muitos outros factos históricos de que os povos hoje não se orgulham de maneira nenhuma.

Pode ser que esteja na moda, ou seja politicamente correcto, nos nossos dias, pedirem-se desculpas pelos erros praticados no passado pelas instituições ou Estados que praticaram actos ou políticas condenáveis, mas não acho que isso possa servir ou ajude sequer a esquecer o que já foi feito, pelo contrário. A igreja católica já pediu desculpas por alguns excessos e não me consta que o sentimento dos povos atingidos se tenha alterado, ou que se tenha deixado de ensinar na sua História nacional, os acontecimentos em causa. A Alemanha pediu desculpas pelos desvarios de um ditador que deu origem à segunda guerra mundial, mas continuamos a falar e a condenar o nazismo.

As boas intenções que possam estar por detrás dos pedidos de desculpa, a que alude Mário Crespo no seu artigo, apenas servem para reavivar a memória dos povos para factos do passado, pelos quais esses mesmos povos já pagaram um elevado preço. No caso vertente, os portugueses que viviam em Moçambique perderam os seus bens, foram humilhados lá e à chegada a Portugal, onde não foram bem recebidos, pelo menos no princípio, e tiveram que refazer as suas vidas e cicatrizar as suas feridas. Os moçambicanos também pagaram, e de algum modo ainda estão a pagar a sua factura pela sua independência, e tem sido bem pesada. Incólumes ficaram apenas aqueles que detendo o poder nunca foram responsabilizados por nada.

Redime-se o jornalista, no final do seu artigo de opinião ao falar da situação actual, onde dentro de portas se continua a explorar os imigrantes, e não só, considerando quem trabalha como um artigo descartável, independentemente da cor, credo, ou nacionalidade, e pretendendo ignorar as Covas da Moura que ainda por aí persistem e a exclusão que nem com roteiros presidenciais, deixa de existir.

Mário Crespo sugere que depois de pedir desculpas poderíamos dizer bem alto “Aleluia, finalmente estamos livres”, mas eu pergunto de quê? Não temos agora as mesmas atitudes e os mesmos comportamentos à porta de casa?

Não sejamos hipócritas, só seremos desculpados por acções concretas, nunca por gestos simbólicos, por muito nobres que se nos afigurem.

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Christo Komarnitski

Lailson

14 comentários:

  1. Olá meu querido amigo, concordo 100%, contigo quanto ao texto...
    O resto da postagem está uma beleza como sempre...
    Beijinhos de carinho e amizade.
    Fernandinha

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  2. Não li o artigo, mas penso que neste caso o Crespo foi desproporcional, pelo que dizes. Nunca se conseguirá reescrever a história, factos são factos...
    Um Abraço e Boa semana

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  3. As penitências que temos que fazer por causa do D. Afonso Henriques...
    Isto está tudo louco!
    Fui
    Joca

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  4. Guardião
    Estou como tu: os pedidos de desculpa são meros actos de cortesia aplicados a acções sociais de pouca monta. Porque a grandes acontecimentos, com culpados conscientes da sua culpa e das implicações, é revoltante falar em desculpas. Era como se uma simples palavra apagasse o opróbrio da guerra, da humilhação e da dor que provocaram.

    Os cartoons são o máximo. Gosto particularmente daquele em que se têm que fazer arranjos de matemática para descobrir os postos de trabalhos prometidos por José Sócrates.
    Um abraço

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  5. Olá Guardião,
    concordo plenamente com a sua apreciação do tema.
    Adorei a música e encantei-me com as flores. Posso colher uns raminhos ?

    Um beijinho amigo
    Maria

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  6. Olá!
    Certamente, desculpas não mudam a história nem curam feridas. Os responsáveis, estes nunca pedem desculpas...
    Abraços.

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  7. Inteiramente de acordo. Os factos devem ser analisados à luz da época com todas as circunstâncias que os podem explicar. Não teria qualquer piada pedir desculpa aos espanhóis pela rebeldia de Afonso Henriques, ou dos restauradores.
    E, como muito bem diz, isso, em lugar de fazer esquecer ódios, vem reavivá-los e criar novas ocasiões de mau entendimento. É preciso saber perdoar sem que nos seja pedida desculpa. Isso nem é perdoar, é compreender e entender o que era a vida nessa altura.
    E como escrevi em post já antigo, «As relações internacionais são interesseiras». Entre os Estados não há generosidade gratuita, como bem demonstra a posição em relação ao Kosovo, em que ninguém se interessa pela vida da população, mas sim pelo mau exemplo que dali pode vir para o interior dos próprios estados, como a Rússia, a Espanha, a China, etc
    Abraço
    A. João Soares

    No blog Do Miradouro há novos artigos

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  8. Discordo, mas discordo por outra perspectiva, cá pelo nosso canto, orgulhosamente enchemos o peito de orgulho por sermos os descobridores, o o grande povo que descobriu o mundo, nessa altura somos a nação valente e imortal, já não importa se isso foi feito à centenas de anos. Pra ver os erros que fizemos, as vergonhas, nessa altura faz parte do passado, não se deve mexer.

    Deve-se mexer, deve-se aprender com a historia, seja o que foi feito de bom, seja o que foi feito de mau, depois de tiradas as lições, arrumados os fantasmas, nenhum pais pode ter futuro se não saber enfrentar o passado, nessa altura é hora de avançar.

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  9. As desculpas por erros do passado, quando os mesmos se repetem nos nossos dias não é hipocrisia? Então o que é?

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  10. Como dizia o tal anúncio uma boa desculpa não ideminiza prejuízos, nem retira as consequências.
    Muito boas as fotos.
    Um abraço

    Amigo, tem mais um prémio no Sexta.
    Passe por lá quando puder.
    Um abraço

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  11. Meu caro Guardião, perdoa-me as palavras mas sempre ouvi dizer que quanto mais se mexe na merda, pior é o cheiro!

    As feridas provocadas por uma política ultramarina levada aos extremos por parte do antigo regime, seguida dos erros infantis e dramaticamente penalizadores de uma descolonização feita à pressa e sem o cuidado de salvaguardar os interesses das populações tanto nativas como dos nossos compatriotas, estão ainda muito vivas e não seria nunca um pedido de desculpas que as iria sarar!

    Sinceramente é com alguma frequência que discordo do Mário Crespo, não tanto pela sua qualidade enquanto jornalista, mas mais pelas suas opiniões pessoais, relativas à política internacional!

    Aquele abraço infernal!

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  12. Subscrevo inteiramente o seu parágrafo final.

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  13. Concordo sem reservas com as conclusões do seu escrito.

    Cumprimentos
    Jorge G.

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  14. Meu caro Guardião,
    Sobre este assunto, além de assinar por baixo cada palavra tua,
    não me manifesto e tu sabes porquê?
    Sou suspeita.

    Hoje estou numa de recordações.

    Os teus "bonecos" sempre demais!

    Um abraço

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