Por muito que nos acenem com números e com previsões optimistas, a realidade é aquela com que nos confrontamos todos os dias, nas conversas no emprego, nos cafés ou em outros locais públicos que frequentamos. O custo de vida aumentou muito mais do que os salários, e as dificuldades aumentam a cada dia que passa, havendo já muitos que admitem estar a cortar em bens essenciais, como na alimentação ou até na saúde.
Temos uns quantos senhores, iluminados pelos altos salários que auferem e com óbvias ligações ao poder político e económico, dizer que a contenção salarial é um sacrifício que todos temos de fazer para um futuro melhor. Esta cantilena, já se ouve há meia dúzia de anos, pelo menos desde o discurso da tanga, e o povo pergunta muito justamente, quais os benefícios de tantos sacrifícios?
Começa a tornar-se patético este apelo ao sacrifício de quem trabalha, quando os bancos continuam a apresentar lucros gigantescos, os grandes grupos económicos também, os políticos vivem numa abundância crescente, os gestores públicos ganham balúrdios e só os pequeninos é que apertam o cinto.
Se repararem nenhuma das reformas levadas a cabo nos últimos anos, deixou de tocar direitos dos trabalhadores ou pelo menos tornou mais caro o acesso dos mesmos a esses serviços. Exemplo, temos a saúde, a educação, os transportes e todos os bens de consumo, se também incluirmos o aumento do IVA. Não me esqueço também dos cortes nas pensões futuras, nos impostos que estão a corroer as pensões actuais. Junte-se a isso o aumento da precariedade no emprego e os salários de miséria que por aí se praticam, e digam-me que estou a exagerar.
Há uns anos atrás ainda nos vinham acenar com o facto de o custo de vida ser mais baixo em Portugal, mas agora já se contabilizam os prejuizos por muitos portugueses atravessarem a fronteira, para se abastecerem no país vizinho onde grande parte dos produtos são mais em conta, e não são só os combustíveis, também os produtos de limpeza e até muitos de alimentação e vestuário, são efectivamente mais baratos.
É preciso ter um discurso demasiado demagógico e ser-se muito hipócrita, para vir dizer que os trabalhadores não têm razões para protestar. Que sabem estes senhores acerca de miséria? Convido-os a sairem dos seus cadeirões e virem ao terreno ver as inúmeras famílias que recorrem ao Banco Alimentar Contra a Fome, ou às instituições de solidariedade social por ele apoiadas, onde talvez encontrem alguns dos funcionários das vossas empresas, ou dos vossos ministérios, porque já há muito tempo que estas ajudas deixaram de ser exclusivamente para os desempregados e pensionistas com baixas reformas, para serem também uma ajuda preciosa para muitos dos que trabalham duramente para vos servir, não recebendo em troca sequer o suficiente para alimentarem as suas famílias.
Estamos na época do Natal, talvez demasiado preocupados com os presentes para os amigos e familiares, mas nunca é demais lembrar que nem todos têm dessas preocupações menores, alguns lutam pela subsistência ou até pela sobrevivência, muitas vezes silenciosa e envergonhadamente.
Há razões para protestar? Isso fica ao vosso critério.
ZP
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AMIGOS
Por motivos profissionais vou estar ausente de Portugal por alguns dias, mas procurarei com a ajuda já habitual dos meus companheiros, fazer uma perninha sempre que possível.
Até breve
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Fotografia
Bakkebu