Entre as várias leituras resultantes do confinamento, e por causa da "verdadeira fome de livros" que me assolou no ano passado, passou "A espada e a azagaia" do Mia Couto, que me fez ir remexer nos meus preciosos arquivos, e ler mais um pouco sobre o Gungunhana e o enquadramento da vida daquele chefe tribal, com o caso do mapa cor-de-rosa e as relações entre Portugal e a Inglaterra no século XIX.
Ele lá está, jogando em dois tabuleiros aproveitando a situação que opunha Portugal e Inglaterra.
Outro facto que também se tornou mais claro do que anteriormente foi a clara desvantagem, ou a fraqueza se preferirmos, do nosso país perante a pungente e poderosa Inglaterra, e o facto de ter sido apenas jogando com a diplomacia que as perdas territoriais não foram maiores, naquela altura.
Deixo-vos um excerto dum texto interessante que apareceu na minha busca de informação.
"Ao mesmo tempo que se dá a invasão de Manica (1891), dois oficiais da BSAC (Companhia Britânica da África do Sul) são enviados ao Kraal do rei de Gaza. O objectivo era conseguir que este desse a Mutassa o direito de realizar tratados com a Chartered. Se possível, deveriam tentar que Gungunhana desse preferência à protecção inglesa e não portuguesa, ou então que se conseguisse, entre ambas as partes, o reconhecimento da independência do seu poder. (Geographical Section of the Naval Intelligence Division, 1920) Ansioso por obter o melhor proveito da situação vivida entre a BSAC e Portugal, Gungunhana agiu sub-repticiamente, chegando a afirmar que aceitava a protecção inglesa, enviando a Londres dois emissários e mostrando-se disposto a cedera cidade da Beira, que dizia fazer parte dos seus domínios. A imprensa inglesa em Londres deu grande importância ao assunto e foi esta uma das razões das dificuldades de Portugal, em assegurar a Salisbury que o régulo era seu vassalo. Como oferta ao régulo, seguia ainda um carregamento de 1000 espingardas e uma grande quantidade de munições. Estas chegaram por mar e foram então levadas rio acima, para o território dos vátuas. Porém, o navio em que seguiam –o Countess of Carnarvon -foi capturado pelos portugueses, no seu regresso pelo Limpopo."
In A Pacificação de Moçambique no Final do Século XIX, à Luz da Velha Aliança.
Autor: Aspirante Tirocinante de Cavalaria Miguel Pelágio Santos de Almeida
Orientador: Tenente-Coronel de Infantaria António José Marracho
Lisboa, 23de Setembro de 2009
Luís C.
Gungunhana e suas esposas
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