"Durante o cerco de Villalobos faltou certo dia a erva no acampamento e, como se tivesse espalhado infundadamente o boato de que a povoação se renderia no dia seguinte, vários dos do Mestre (de Avis) foram apanhar quanta erva encontraram nas proximidades. Quando o soube, o Mestre ficou irritadíssimo porque supunha, não sem razão, que os cercados, sabendo-o em dificuldades para alimentar o gado, se não rendessem tão depressa. Os factos desmentiram esta suposição, visto a povoação se ter rendido poucos dias depois, mas ela não deixava de ser até certo ponto lógica. O Mestre, irado, sem atender a que a culpa fora impensada, e olhando só às consequências dela, que supunha péssimas, ordenou que prendessem os culpados e que lhos trouxessem. Apresentaram-lhe seis rapazes: sem hesitação, mandou que os degolassem.
Debalde, as lágrimas a bailarem-lhe nas pálpebras, o Condestável busca movê-lo à piedade; debalde, tacticamente invocando os seus serviços, um Escudeiro, que sempre o acompanhara e servira bem, lhe pede misericórdia para um dos condenados, seu irmão; mas o Mestre, frio, impassível, inabalável, não cede. A sentença é executada."
Este episódio contado por Damião Peres, sobre D. João I, o Mestre de Avis, mostra como certos actos numa época podem ser considerados dum modo, e noutra época se tenha um entendimento muito diferente sobre os mesmos.
Naquela época e numa situação de guerra, qualquer acto irreflectido,
mas que eventualmente colocasse em perigo um exército, merecia a maior das
punições, o que de certo modo, se manteve talvez com um pouco menos de
severidade em alguns exércitos, até ao final da II Guerra Mundial, hoje não seria admitido.
Sem comentários:
Enviar um comentário