No telejornal da RTP de ontem, falou-se do preconceito nacional em relação ao uso da gravata. Pode parecer disparatado, ou pelo menos um problema menor, mas isto está associado a muitas outras “manias” que influenciam decisões mais ou menos importantes da vida diária de todos nós.
Comigo, recente, aconteceu-me um caso caricato numa grande empresa nacional. Durante várias semanas troquei inúmeros telefonemas de trabalho com um dos proprietários, sempre feitos através de uma senhora, que sistematicamente me ligava e também me atendia quando eu fazia a chamada para o gabinete do patrão. A senhora foi sempre extremamente simpática nos contactos, cordial até, quando tinha de aguardar um pouco para ser atendido, e fez sempre questão de me tratar pelo nome e apelido.
Um dado dia, terminado o trabalho que me fora encomendado pela dita empresa, dirigi-me à sua sede de mota, acompanhado por um jovem assistente e dirigi-me à recepção, onde pedi para fazerem o favor de anunciar a minha presença ao senhor X (o patrão da empresa). A senhora da recepção olhou-me da cabeça aos pés, e mirou pelo canto do olho o meu assistente e fez uma chamada em voz baixa. Poucos segundos depois, virando-se para o assistente diz-lhe num tom de voz mavioso que o patrão o aguarda na porta ao fundo do corredor e levanta-se para o acompanhar até lá. Confesso que não estranhei, e comecei a caminhar na mesma direcção, e aí acontece o inesperado. A senhora vira-se para mim e com uma voz cortante, pergunta-me: quem á que lhe disse para sair daí? O senhor X não recebe qualquer um, muito menos um motoqueiro, já com idade para ter juízo. Eu só chamei este senhor.
Fartei-me rir e fiz um gesto para indicar ao meu assistente que devia acompanhar a senhora e entrar, porque me apercebi do juízo errado da senhora, e também dos motivos. Eu vinha com um blusão de cabedal e sem gravata, e o jovem que me acompanhava, ía de fato e gravata. Passados poucos momentos o senhor X sai do gabinete e vem direito a mim, desdobrando-se em desculpas pelo equívoco, e a senhora enceta uma saída pela esquerda baixa para a sua secretária. A reunião correu a contento das partes sem incidentes de qualquer espécie.
À saída, a pobre senhora fez questão de me pedir desculpas, e rematou esse pedido com um outro: como é que o senhor quer que eu o passe a tratar, por engenheiro, ou arquitecto? A resposta inevitável foi a de dizer que fizesse como sempre o tinha feito nos contactos anteriores, que era o modo como todos me tratam, e eu gosto.
O hábito faz o monge, diz o ditado popular, mas a sociedade evolui, os costumes adaptam-se às realidades e nem sempre o que parece, é!
Comigo, recente, aconteceu-me um caso caricato numa grande empresa nacional. Durante várias semanas troquei inúmeros telefonemas de trabalho com um dos proprietários, sempre feitos através de uma senhora, que sistematicamente me ligava e também me atendia quando eu fazia a chamada para o gabinete do patrão. A senhora foi sempre extremamente simpática nos contactos, cordial até, quando tinha de aguardar um pouco para ser atendido, e fez sempre questão de me tratar pelo nome e apelido.
Um dado dia, terminado o trabalho que me fora encomendado pela dita empresa, dirigi-me à sua sede de mota, acompanhado por um jovem assistente e dirigi-me à recepção, onde pedi para fazerem o favor de anunciar a minha presença ao senhor X (o patrão da empresa). A senhora da recepção olhou-me da cabeça aos pés, e mirou pelo canto do olho o meu assistente e fez uma chamada em voz baixa. Poucos segundos depois, virando-se para o assistente diz-lhe num tom de voz mavioso que o patrão o aguarda na porta ao fundo do corredor e levanta-se para o acompanhar até lá. Confesso que não estranhei, e comecei a caminhar na mesma direcção, e aí acontece o inesperado. A senhora vira-se para mim e com uma voz cortante, pergunta-me: quem á que lhe disse para sair daí? O senhor X não recebe qualquer um, muito menos um motoqueiro, já com idade para ter juízo. Eu só chamei este senhor.
Fartei-me rir e fiz um gesto para indicar ao meu assistente que devia acompanhar a senhora e entrar, porque me apercebi do juízo errado da senhora, e também dos motivos. Eu vinha com um blusão de cabedal e sem gravata, e o jovem que me acompanhava, ía de fato e gravata. Passados poucos momentos o senhor X sai do gabinete e vem direito a mim, desdobrando-se em desculpas pelo equívoco, e a senhora enceta uma saída pela esquerda baixa para a sua secretária. A reunião correu a contento das partes sem incidentes de qualquer espécie.
À saída, a pobre senhora fez questão de me pedir desculpas, e rematou esse pedido com um outro: como é que o senhor quer que eu o passe a tratar, por engenheiro, ou arquitecto? A resposta inevitável foi a de dizer que fizesse como sempre o tinha feito nos contactos anteriores, que era o modo como todos me tratam, e eu gosto.
O hábito faz o monge, diz o ditado popular, mas a sociedade evolui, os costumes adaptam-se às realidades e nem sempre o que parece, é!
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Fotografia
Um burro carregado de livros pode parecer um doutor e um homem de fato de gravata de marca é logo "inginheiro". Isto faz parte da imaginário saloio que ainda grassa por estas bandas.
ResponderEliminarBjos
Conheço muita alimária que usa gravata da Hermés... cá por mim, tanto ando de gravata e fato, como de calças de ganga e camisa com fralda de fora... é conforme me apetecer... e não me caiu até hoje o estatuto... mas lá que o amigo tem razão, tem... já me aconteceram algumas do género...
ResponderEliminarAssim te vestes... assim és!
ResponderEliminarO provincianismo atávico da sociedade lusa ainda há-de continuar por gerações...
Cumps.
Estimado Amigo,
ResponderEliminarCom que então, motoqueirp?!!!!
E esta hem?!
Que bom ser chamado assim....
Já tenho saudades dos meus tempos de apaixonada da Mini Honda.
Outros tempos, outros caminhos..
Um abraço amigo e votos de Bom Fim de Semana,
Maria Faia
Para a próxima vez vai de lacinho, mesmo que de cuecas, vais ver que fazes furor.
ResponderEliminarLol
Muito bom, excelente.
ResponderEliminar...pois, é complicado. Os costumes ainda são tradição. ;-)
ResponderEliminarAbraço
Como se usar fato e gravata fizesse de um 'zé-ninguém' uma 'pessoa qualificada'.
ResponderEliminarEsse tipo de preconceito é natural numa sociedade entandardizada como a nossa. Infelizmente :/
Caro amigo Guardião , outro post de grande qualidade e interesse. Convida de facto à reflexão.
ResponderEliminarSe me permitir, divido consigo uma experiência que eu própria tive: numa certa época da minha vida quis estudar um pouco o comportamento humano na perspectiva relacional . Falaram-se de um curso bi-anual patrocinado pela F C Gulbenkian que me pareceu ir pelo menos em parte ao encontro do pretendido. Lá me inscrevi e lá o fiz. Entre as disciplinas curriculares recordo que uma versava precisamente este tipo de situação e similares , ou seja , o efeito da impressão da imagem na formação do primeiro conceito, mais os efeitos chamados " da informação prévia", os pré -juízos condicionados, etc.
Parece demonstrado cientificamente que dificilmente se corrige o efeito deixado por nós em alguém, pela nossa primeira imagem.
Mas o mais curioso é como depois se coloca o preconceito humano à ordem da ciência , para através dele obter determinados efeitos a nível empresarial e relacional em geral.
Assim, o "vestir" de uma personagem pode ser propositadamente utilizado para criar uma imagem de segurança, de sucesso , ou outras ...
É portanto um tema muitíssimo interessante o trazido por si aqui.
Depois,
Fiquei cheia de vontade de experimentar a sua moto.
Teria o amigo que me conduzir ou o desastre seria total ...
:)
Um beijinho e parabéns pelo excelente post.
Maria
CAro Guardião,
ResponderEliminardessa histórias tenho uma serie delas e na zona de Leira que é o meu distrito uma serie delas. Infelizmente o exterior marca muito, na lusitanilandia, as nossas relações com terceiros e a forma como nos recriam.
Um abraço
Antonio Delgado
Ps. Gostei muito da musica.