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terça-feira, setembro 28, 2021

PROBLEMAS DE FALTA DE MÃO-DE-OBRA

A economia europeia tem usado e abusado da deslocalização da produção e da precariedade e baixos salários dos trabalhadores, e os resultados começam a ver-se um pouco por todo o lado.

Quase todas as semanas lemos e ouvimos empresários a queixar-se da falta de mão-de-obra para as suas empresas, curiosamente quase sempre nas funções mais mal pagas dessas mesmas empresas.

Sabe-se que são muitas as empresas que recorrem a empresas de trabalho temporário para ocuparem postos de trabalho de que necessitam em permanência. No LinkedIn encontram-se muitas ofertas de emprego, para diversas funções, em que um dos requisitos é o da elegibilidade para programas do IEFP, o que mostra bem o descaramento que existe por parte das empresas na exploração que praticam.

A situação tem tendências para piorar apesar do recurso à imigração que está a ser facilitada pelo governo. Cada vez vai ser mais difícil contratar para funções cujo salário não garante uma vida decente, e os nossos jovens bem como os mais qualificados continuarão a fugir para o exterior.

Quando um qualquer empresário se vier queixar da dificuldade em recrutar, eu acho que lhe deviam perguntar se conseguiria viver com decência com um salário de 700 euros brutos, antes de lhe darem mais tempo de antena ou espaço nos jornais.    


 

quarta-feira, maio 05, 2021

OS NOVOS NEGREIROS

Ainda há poucos dias se discutia o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, porque ele disse que não nos devíamos autoflagelar, nem glorificar, com o nosso passado mas sim olhar para ele com uma visão histórica, aprendendo assim a não cometer os mesmos erros no presente e no futuro.

Houve muito boa gente que o criticou, salientando apenas os factos mais negativos, fazendo deles bandeira duma posição ideológica que sustentam.

A escravatura, a exploração e o racismo que clamavam ao referir-se ao nosso passado, afinal estava mesmo debaixo dos nossos olhos, não em territórios remotos, mas sim cá dentro, minando aquilo que consideramos um Estado Democrático, um Estado de Direito, e numa nação que aboliu a escravatura nos idos do século XVIII.

O passado é já imutável, o que podemos fazer é aprender com ele, e para isso não temos que nos autoflagelar. O que acontece no presente, isso sim, é da nossa responsabilidade enquanto povo, e disso si, devemos manifestar a nossa vergonha, o nosso repúdio e as críticas às entidades com responsabilidades no que acontece.


 

sexta-feira, outubro 18, 2019

SOCIEDADE CHICLETE


Hoje fui a uma superfície comercial para comprar o Euromilhões, que por acaso é vendido na cafetaria à saída do supermercado. A fila era dumas vinte pessoas, quando cheguei, mas passados uns cinco minutos já só tinha umas quatro pessoas à minha frente, ainda que o cliente ao balcão ser ainda o mesmo de quando cheguei.

O avanço da fila tinha ocorrido pela desistência dos clientes. Desviei a atenção para a moça que estava dentro do balcão e era evidente que estava atrapalhada com a luva que calçava para fazer as sandes, descalçava para fazer os sumos de laranja, calçava de novo para partir um croissant ao meio, e voltava a descalçar para tirar os cafés que transbordaram as chávenas.

À minha esquerda surge um outro funcionário que eu já vira antes na cafetaria, que calmamente começou a retirar louça suja das mesas. Os minutos passavam e depois de dez de espera, a moça estava a atender o segundo cliente, e o funcionário mais antigo passou para dentro do balcão e plantou-se na caixa registando os pedidos que eram feitos à colega, mas ajudar que é bom, nada.

Quinze minutos depois de chegar a fila tinha umas trinta e tal pessoas, apesar das muitas desistências e eu estava em segundo lugar, e foi quando o funcionário decidiu ir para a máquina do Euromilhões e outros jogos, e chamou quem estava na fila para comprar jogo, e lá fui eu ser atendido, mas pelos vistos para jogo eram só três clientes, pelo que a fila não melhorou muito.

Quando acabei de comprar o jogo saí e olhei para as caixas do supermercado e, apesar de ser um cliente semanal do mesmo, não vi uma única cara conhecida, o que já é normal.

Os trabalhadores destas superfícies são jovens contratados a prazo, com baixos salários, que naturalmente não chegam a aquecer o lugar. A qualidade do serviço prestado ressente-se disso, e a culpa não é dos pobres trabalhadores precários mas sim de quem usa e abusa desta precariedade e dos baixos salários.

Eu já só compro aqui uma pequena parte do que necessito, mas vou passar a evitar cá vir, não só pela baixa qualidade do serviço, mas também porque me sinto cúmplice desta situação. Vou experimentar outras lojas como já fiz para comprar o pão, a carne e o peixe.  



quinta-feira, janeiro 03, 2019

MORDER A LÍNGUA…


Há quem tenha estado em todas na representação do patronato português, se tenha eclipsado e depois tenha reaparecido numa organização manhosa com o nome de Fórum para a competitividade, que é o caso de Pedro Ferraz da Costa.

Não se pede a um ferrenho defensor e representante do patronato que seja imparcial, muito menos em questões de competitividade, pois é óbvio que estará sempre do lado dos empregadores, o que é natural.

Quando este senhor vem dizer que “a semana das 35 horas é uma raridade na União Europeia e no mundo, sendo claramente um luxo de país rico, com actividades muito concentradas nos serviços”, apetece perguntar se a competitividade só se alcança com horários com mais alargados, e já agora, com salários muito baixos, como os que se praticam em Portugal.

Talvez fosse de perguntar a este “especialista” o que diria a um gestor que ganha 160 vezes mais do que os seus trabalhadores, e a todos os gestores que durante os anos de crise se aumentaram, enquanto pediam sacrifícios aos seus subordinados.

Será que Marcelo Rebelo de Sousa ao falar de mais justiça social estava a pensar em Pedro Ferraz da Costa?  



quarta-feira, setembro 27, 2017

O PORTUGAL POUCO SEXY



Diz-se por aí que Portugal está na moda, que Portugal está mais sexy, e atiram-se números fantásticos da entrada de turistas, de entradas em museus e monumentos, ou de dormidas nos hotéis, para justificar as tiradas bombásticas.

Há coisas que ficam na sombra, para não dizer no esquecimento, como os preços muito baixos da restauração, dos museus e monumentos e dos serviços em geral, talvez porque não sejam realidades tão sexys como isso.

O país atrai cada vez mais estrangeiros por via da oferta pelos baixos preços, pelos baixos impostos, e talvez por isso mesmo estamos a competir com Malta no aumento do turismo, o que não será motivo de tão grande orgulho.

Qual é o valor que estamos a acrescentar à nossa oferta para oferecer ao turismo? O que é que estamos a fazer para melhorar a qualidade dos serviços, na restauração, na hotelaria, nos transportes, nos museus e monumentos, e mesmo na segurança?

Os barcos do Douro podem estar a abarrotar de estrangeiros, mas a pagar miseravelmente aos trabalhadores, os monumentos podem estar cheios de estrangeiros mas com trabalhadores a receber pouco mais do que o salário mínimo nacional, a restauração pode estar a ter uma boa performance mas com baixos salários e grande precariedade, e por aí em diante, mas nada disto é sexy, pelo que não é notícia.