quarta-feira, maio 27, 2020
domingo, maio 24, 2020
PESSOA
Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
quinta-feira, maio 21, 2020
domingo, maio 17, 2020
CULTURA E MITOS URBANOS
Existem muitos mitos urbanos que
envolvem a História e o Património, mas é bem verdade que as pessoas gostam, e
fixam melhor estes mitos do que a verdade histórica comprovada.
Durante as várias décadas de
trabalho no Património aprendi um a coisa, que foi nunca me esforçar demasiado
em desmistificar os mitos, embora sempre os tenha classificado como mitos ou
lendas quando a eles me refiro.
No Mosteiro da Batalha ouve-se a
lenda da abóbada da Sala do Capítulo e do mestre Afonso Domingues, e eu acho
que é uma ume narrativa deliciosa, um pouco nacionalista, mas que trás um certo
misticismo ao monumento. Quem desejar aprofundar mais o seu conhecimento, pois
então que o faça, mas não desfaça o imaginário dos outros.
No Palácio da Vila de Sintra
temos a Lenda das Pegas, talvez um pouco machista mas por isso mesmo
interessante, ou as divagações sobre o Quarto Prisão de D. Afonso VI, seja
pelas razões da sua desgraça, do desgaste do solo do seu cárcere, ou até dos
sinais que trocaria com o conde de Castelo Melhor, que compõem uma narrativa
melodramática. E o que dizer da hipotética leitura dos Lusíadas ao rei D.
Sebastião pelo próprio Luís de Camões, no Pátio da Audiência, potenciado pelo
filme de Leitão de Barros?
Também podemos ir para Mafra onde
temos as ratazanas dos subterrâneos, e os exércitos de morcegos que tratam da
conservação dos livros, que fazem a delícia de quem ouve estas narrativas.
Claro que as lendas e as narrativas fantasiosas apimentam o imaginário de muita gente, mas devem sempre ser antecedidas do aviso correspondente, porque nunca se sabe a quem as contamos…
sábado, maio 09, 2020
GRANDE CONFUSÃO
As regras depois do estado de
emergência são um pouco confusas e nem sempre possíveis de entender ou de
colocar em prática.
Entrando num supermercado vi que
era impossível manter os tais 2 metros de distância entre cada pessoa, porque a
minha lista de compras era diferente da duma senhora que tinha voltado para
trás e entrou no meu espaço pessoal. Segui em frente e um cavalheiro falava ao
telefone com alguém e eu parei para não o incomodar, mas a senhora que tinha voltado
atrás mandou-me andar porque não tinha o dia inteiro para fazer compras.
No dia seguinte decidi sair de
casa para dar uma volta a pé para fazer uma pequena caminhada em volta do meu
quarteirão de residência e, menos de duzentos metros depois sou abordado por um
senhor polícia a cavalo que me perguntou o que estava a fazer, ao que respondi
que estava a dar uma volta perto da residência, e a resposta imediata foi, o
senhor já tem mais de 65 anos (é verdade), por isso está no grupo de risco,
pelo que deve regressar imediatamente para a sua residência porque temos
uma regra de recolhimento. Por acaso tenho mais de 65 anos mas não estou aposentado, mas o senhor polícia nem merecia qualquer resposta minha.
Não fui à praia, nem sequer em
passeio de carro, mas vi na televisão que estas estão abertas apenas para os
surfistas, ou para quem esteja a fazer exercício físico, mas uma pessoa que se
sente sozinha para apanhar sol está a infringir as regras. Parece que em
algumas praias também se pode fazer pesca lúdica, mas estar a apanhar sol,
mesmo que sozinho, é contra as regras. Mergulhar para dar umas braçadas é
proibido, a não ser a surfista ou praticantes de bodyboard com a prancha.
Para os restaurantes que vão
abrir dia 18 a distância entre clientes está estabelecida em 2 metros, e no
comércio vigoram os 20 metros quadrados por pessoa, mas para os museus,
palácios e monumentos, onde os espaços estão muitas vezes limitados por baias,
existem espaços com menos de dois metros de largura, e com menos de 20m2 por
sala, a abertura está marcada para o próximo dia 18.
Também pensei nas questões legais
das proibições de circulação e de acesso a certos locais, num estado de
calamidade (não de emergência) e não encontrei explicação para muitas destas
regras impostas.
Será que sou o único a não
compreender isto?Há diferenças entre o estado de emergência e o estado de calamidade, mas parece que a confusão é imensa...
quarta-feira, maio 06, 2020
sexta-feira, maio 01, 2020
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