Nestes últimos dias li uma
notícia cujo título me chamou a atenção, e o quanto ao texto que se seguia,
revelava a dificuldade de entender a mistura de sentimentos que atravessa a
cabeça de muitas pessoas que tiveram que deixar as chamadas colónias nos anos
70 do século passado.
Começando pelo título “ para a
maioria dos colonos, a possibilidade de abandonar África era nula”, diria que o
termo “colonos” é uma simplificação que pode distorcer a compreensão do que se
quer perceber.
Talvez fosse importante perguntar
aos alvos do estudo se alguma vez se sentiram como colonos, ou se pelo
contrário sentiam aquelas terras como as suas terras. Talvez tivessem uma
surpresa, pois ignoraram desde o princípio que muitos dos que fugiram para
Portugal, eram já naturais daquelas terras, ou nelas tinham as suas vidas há
décadas.
Quanto aos traumas e à integração
dos que fugiram daqueles territórios africanos, é verdade que existem alguns
traumas, outros fugiram deles concentrando-se em refazer as vidas, colocando
uma pedra sobre o passado, ainda que nunca tenham conseguido esquecer os
territórios que amavam.
A descolonização não foi bem feita e muita gente sofreu por isso, infelizmente.
ResponderEliminarSempre defendi a independência dos territórios ultramarinos, porém nem Salazar nem Caetano aceitaram sequer negociar...e o resultado foi um conflito que deixou marcas indeléveis em gerações .
Bom domingo.
Eu segui em frente, enfrentei o facto de ter dois filhos para criar e os bolsos vazios. Trabalhei às mesas na Feira Popular, na pica de porões de petroleiros, a carregar sacos de farinha e de açucar, e onde podia ganhar dinheiro, até conseguir emprego mais seguro e mais de acordo com as minhas capacidades. Chorar sobre o leite derramado não servia de nada, e o facto de ter perdido tudo, até a estabilidade familiar (passei por uma separação, não servia de nada, por isso apontei para uma nova vida que tive que construir a pulso em tempos bem difíceis (76/77).
ResponderEliminarEstou vivo, continuo a amar a minha terra, as suas gentes, mas não penso lá voltar.
Abraço do Zé
Zé,
ResponderEliminarDessa ignorância sobre a vida em África, já me cansei. Eles não sabem, não imaginam nem querem.
Lembrar que os navios chegavam a Luanda cheios de soldados convencidos de que, em vez de encontrarem uma cidade pujante, iam, logo alí, puxar das armas para enfrentar terroristas e leões... Oh... meu Deus! As manhãs de domingo eram para ir receber os soldados, as tardes para ir ao Hospital Militar visitar os feridos - alguns, logo no princípio, com o corpo cravado de tiros de canhangulo, o que incluía pedras, pedaços de metal, enfim, a maior parte das vezes vê-los dar o último suspiro.
Sabem lá o que foi a guerra!!!
Desculpa o desabafo, Zé!
Um abraço
Grande país, que mo meio de um processo revolucionário, a contas com a necessidade urgente de conceder direitos sociais, em plena crise de petróleo, consegue integrar 1 milhão de retornados - não tenho medo do termo!
ResponderEliminarHá muita injustiça histórica sobre esse processo e esta é uma delas.
Um abraço correcto
alguns retiveram uma visão muito conservadora do país esquecido...
ResponderEliminarcumpts
Meus caros amigos
ResponderEliminarEu nasci em Moçambique e essa foi sempre a minha terra. Depois de 1974 fui forçado a escolher uma (só uma) nacionalidade, e com a instabilidade existente à época, escolhi ser português, porque também sempre me senti português. Nunca me senti retornado mas sim refugiado.
O passado é passado, e os únicos lamentos que tenho prendem-se com o retrocesso sofrido por Moçambique derivado dos excessos revolucionários (importados), e nunca esquecerei que fui espoliado dos meus bens, parcos é verdade, e que Portugal nunca me indemnizou ao contrário do que fez noutros casos bem conhecidos.
Lamento ter sido politicamente incorrecto, mas creio que a minha verdade tem que ser conhecida.
Cumprimentos a todos
Passei por Angola porque o meu pai era militar.
ResponderEliminarAmei aquela terra, fui feliz e as melhores recordações são de lá. Todos os retornados ou refugiados que conheço continuam a amar aquela terra. Alguns voltaram outros já não o fizeram.
Angola, terra vermelha de mil cheiros, de embondeiros e farta em tudo!
Saudades, muitas saudades...
Os povos em liberdade são mais felizes
ResponderEliminarpara definiram a sua vida
Gostei da sua análise ao texto que leu