quarta-feira, fevereiro 29, 2012

ESPERANÇA DE VIDA

Nos tempos que correm tudo tem servido para justificar o aumento da idade de reforma, até a esperança de vida que entra no cálculo das pensões. Como se percebe isso não passa duma falácia e de um exercício meramente estatístico, que não respeita as especificidades nem do indivíduo nem da actividade profissional exercida.

É consensual que a esperança de vida tem sido apenas um instrumento para dificultar a entrada na reforma e para aumentar o período de descontos dos trabalhadores, ou então diminuir-lhes substancialmente os montantes das pensões, caso não trabalhem mais anos.

O cálculo da esperança de vida em Portugal tem sido uma incógnita para todos, e pode até dizer-se que não existe nenhum estudo fiável em que se baseiem os números que nos vão sendo adiantados pelas autoridades.

Este inverno com muito frio veio alertar a Direcção-Geral da Saúde (DGS) para o aumento exagerado da mortalidade de pessoas idosas. Sendo certo que com as fracas condições económicas de boa parte dos idosos, associadas à fraca qualidade da construção de grande parte das habitações, levam a que muitas pessoas passem muito frio, perigando desse modo a sua saúde, isso não é tudo.

As pensões muito baixas, o desemprego de longa duração e mesmo salários demasiado baixos, fazem com que existam cada vez mais famílias que se alimentam mal, se agasalham mal e que não tomam a medicação adequada para os males de que vão padecendo.

Há portugueses a morrerem prematuramente, e já são quase um quarto dos portugueses os que não passam dos 70 anos. Este problema não se combate com caridadezinha, mas sim com um aumento da qualidade de vida, o que não vai ser possível com as políticas que nos estão a ser impostas.

Será que a esperança média de vida que o governo tem utilizado é real e baseada em dados credíveis e comprováveis?

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Foto - Narcisos

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Humor - Só Casca

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

INSATISFAÇÃO

Poeminha de Insatisfação Absoluta

O que me dói
É que quando está tudo acabado
Pronto pronto
Não há nada acabado
Nem pronto pronto
Pintou-me a casa toda
Está tudo limpado
O armário fechado
A roupa arrumada
Tudo belo, perfeito.
E no mesmo instante
Em que aperfeiçoamos a perfeição
Uma lasca diminuta, ténue, microscópica,
Não sei onde,
Está começando
Na pintura da casa
E as traças, não sei onde,
Estão batendo asas
E a poeira, em geral, está caindo invisível,
E a ferrugem está comendo não sei quê
E não há jeito de parar.

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"


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Foto - Azul

sábado, fevereiro 25, 2012

DECEPÇÃO PARA OS NOSSOS GURUS

A notícia “Portugal entre os piores na distribuição dos rendimentos”, não é nova nem tão pouco surpreendente para mim, mas o mesmo não se aplica a diversos opinion makers na nossa praça que defendem um Estado minimalista.

O relatório “Going for Growth” publicado pela OCDE esta sexta-feira, atira Portugal para o grupo de países com maiores desigualdades em termos de rendimento disponível das famílias. Sabe-se que foram testados vários cenários alternativos, sendo que os resultados se mantiveram estáveis.

Como era de se esperar os países nórdicos surgem no lado oposto da lista sendo os que praticam maior igualdade na distribuição dos rendimentos para além da melhor qualidade de vida que todos reconhecem.

Indivíduos como Miguel Sousa Tavares e João César das Neves podem continuar a dizer que temos um Estado demasiado “gordo”, e que o seu tamanho é que é o problema da nossa economia, que os factos continuarão a desmentir essa tese, apesar de toda a antena que lhes é dada.

Talvez seja altura de se começar a pensar nos reais problemas deste país, que estão do lado da governação, da organização, da falta de fiscalização, do compadrio e da corrupção. Podemos aprender com quem está entre os melhores, e desprezando os palpites de quem teima em debitar receitas cujo resultado é conhecido é mau.

Leitura recomendada AQUI

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Foto - Salpicos
By Palaciano
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Humor - Alimentando a Mentira

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

O MINISTRO E A SUA SAÚDE

Vítor Gaspar não se cansa de repetir que Portugal não precisa de mais nenhum pacote de ajuda, que não vai pedir mais tempo para ajustar a economia nacional e que não necessitamos de nenhum tipo de renegociação do acordo celebrado com a troika.

Apesar de todo o optimismo do senhor ministro, que teima que estamos a ir no caminho certo para a solução dos nossos problemas, as opiniões da maioria dos especialistas estrangeiros e até de muitos nacionais, é de que o ajustamento a todo o custo como tem sido feito, não resolve nada, antes pelo contrário agudiza o problema da dívida.

Os últimos dados conhecidos apontam claramente em direcção oposta, relativamente ao discurso de Vítor Gaspar. Portugal é agora o país da zona euro com a taxa de inflação mais alta, e a recessão prevista para 2012 não para de ser revista em alta e já atinge os -3,3%. O nosso desemprego aumenta para além de todas as previsões, estando já acima dos 14%, e com claras tendências de subida forte para este ano.

Com toda esta informação, que é domínio público, não sei se podemos confiar no senhor ministro das Finanças, que continua a ver virtualidades no caminho trilhado até agora, ou se devemos estar preocupados com as capacidades de discernimento deste responsável político.

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Humor Agarrado à Cadeira

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

ESOJ OSNOFA

Partiu em 1987, precisamente nesta data, José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, também conhecido por Zeca Afonso, cantor e compositor português que ficará para sempre ligado à história do fado de Coimbra e à música revolucionária do final da ditadura e da revolução que se seguiu.

Atravessamos tempos difíceis e há quem nos queira fazer crer que não temos direito a nenhuma das conquistas conseguidas depois de Abril de 1974. Creio que esta é uma boa ocasião para recordar o Zeca, um lutador que usou a canção como arma, em tempos igualmente difíceis.