segunda-feira, fevereiro 20, 2012

SONHO

O Cortejo Ingénuo dos Nossos Sonhos

Não desenhamos uma imagem ilusória de nós próprios, mas inúmeras imagens, das quais muitas são apenas esboços, e que o espírito repele com embaraço, mesmo quando porventura haja colaborado, ele próprio, na sua formação. Qualquer livro, qualquer conversa podem fazê-las surgir; renovadas por cada paixão nova, mudam com os nossos mais recentes prazeres e os nossos últimos desgostos. São, contudo, bastante fortes para deixarem, em nós, lembranças secretas que crescem até formarem um dos elementos mais importantes da nossa vida: a consciência que temos de nós mesmos tão velada, tão oposta a toda a razão, que o próprio esforço do espírito para a captar a faz anular-se.

Nada de definido, nem que nos permita definir-nos; uma espécie de potência latente... como se houvesse apenas faltado a ocasião para cumprirmos no mundo real os gestos dos nossos sonhos, conservamos a impressão confusa, não de os ter realizado, mas de termos sido capazes de os realizar. Sentimos esta potência em nós como o atleta conhece a sua força sem pensar nela. Actores miseráveis que já não querem deixar os seus papéis gloriosos, somos, para nós mesmos, seres nos quais dorme, amalgamado, o cortejo ingénuo das possibilidades das nossas acções e dos nossos sonhos.

André Malraux, in 'A Tentação do Ocidente'

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Foto - Pássaro na Gaiola
By Andrzej Radka

4 comentários:

  1. Talvez se soubéssemos o perigo que é sonhar, sonharíamos menos... Mas nos sonhos as gaiolas não são obstáculos são apenas plataformas para os nossos vôos..

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  2. A imagem só me recorda a construção de União Europeia...

    Que tenha divertido Carnaval

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  3. Andas por boas leituras. Afotografia é linda.
    Bjos da Sílvia

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  4. divagações oportunas da memória...

    cumpts

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