sexta-feira, março 23, 2012

DESCONTENTAMENTO E MANIFESTAÇÕES

Em Portugal as manifestações têm sido normalmente pacíficas e sem qualquer tipo de excessos, devido à organização dos sindicatos, que nesse aspecto tem sido impecável.

Nas últimas manifestações têm surgido à margem das manifestações organizadas pela CGTP, alguns incidentes com grupos de manifestantes autónomos, que têm envolvido também forças de segurança e alguns excessos.

A situação tende a piorar, não só pelo aumento do desemprego e da precariedade, mas sobretudo pela teimosia de uma certa direita que acha que os trabalhadores não devem fazer greves ou manifestar-se, e que acenam sempre com os inconvenientes que as greves naturalmente acarretam.

Ontem ouvi um deputado do CDS dizer que há o direito à greve mas que devia haver o direito a trabalhar quando há greves, o que nunca esteve em causa, logo ele que defendeu as alterações às leis laborais e à facilitação dos despedimentos.

Pode ser que num futuro próximo seja mais difícil mobilizar os trabalhadores para greves ou manifestações, mas será também muito mais provável que o descontentamento passe a ser descontrolado e acabe por ser mais prejudicial para todos.

Dar ouvidos à insatisfação devia ser uma obrigação dos eleitos, porque o povo não é masoquista nem tão tolo, que lhe dê para sacrificar um dia de salário só para ir para a rua gritar umas quantas palavras de ordem.

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Humor - O Poder

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Foto - Flor Branca

quarta-feira, março 21, 2012

FEIJÃO-FRADE

Não vos venho falar da planta da família das leguminosas, vigna unguiculata, nem das diversas receitas possíveis em que este feijão pode ser utilizado, mas sim do que se diz das pessoas que têm duas faces como o feijão-frade.

Falo obviamente de duas personalidades da política nacional, que cumprindo a tradição de todos os maus políticos, tiveram uma posição enquanto estiveram na oposição e têm outra diametralmente oposta agora que estão no poder.

Para começar temos Passos Coelho que em 2008, então na oposição, pediu a descida do imposto que incide sobre os produtos petrolíferos, e que agora, enquanto 1º ministro, não actua em conformidade, e mantém inalterado o imposto, dificultando a retoma da economia e asfixiando as economias familiares.

Outro exemplo da dualidade do discurso dos políticos nacionais é dado por Eduardo Catroga, que quando o PSD estava na oposição dizia que existiam rendas pagas pelo Estado que eram muito acima do normal, mas agora que o PSD está no governo, e ele próprio está na EDP, já diz que é preciso fazer bem as contas.

Costuma dizer-se que o feijão-frade tem duas caras, mas como se sabe há por aí muita gente com duas caras, que se gaba da sua coerência mas que sucumbe às conveniências próprias e aos interesses instalados.


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Foto - Primavera

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Memórias

domingo, março 18, 2012

INTERVALO

Por motivos de ordem familiar pode ser que tenha de fazer uma pausa por uns dias, mas prometo voltar logo que possível.

Obrigado


sexta-feira, março 16, 2012

QUE PAÍS ESTRANHO…

Portugal é um país estranho para os meus amigos estrangeiros. Quando por força da minha profissão troco algumas palavras sobre Portugal, que não sejam para descrever o belo país que temos, lá vem à baila a situação económica e a política nacional, assuntos que deixam os meus interlocutores simplesmente embasbacados.

Ainda hoje um amigo brasileiro, que até tem família a trabalhar em Portugal, me perguntava como era possível um ex-primeiro-ministro estar a gastar 15 mil euros mensais em Paris, estando fora do mercado de trabalho. Ele disse-me que o seu irmão não ganha isso em 18 meses a trabalhar em Portugal, como desenhador gráfico.

Ontem tinha sido um britânico, gerente comercial, que ficou admirado por saber que o seu governo estava a pagar a defesa de Vale e Azevedo mesmo sendo público que ele vive há anos numa casa num dos locais mais caros de Londres.

Mas se para os estrangeiros este país é estranho, para mim também não deixa de ser… esquisito. Li que para o Ministério das Finanças não existe qualquer incompatibilidade ou conflito de interesses entre o cargo de consultor da Parpública e o lugar na administração da Jerónimo Martins.

Curioso, estranho ou esquisito são apenas alguns dos adjectivos mais suaves que encontrei para descrever o que se passa neste país, ou em torno de alguns portugueses, que não são (ainda bem) representativos da globalidade dos cidadãos deste rectângulo à beira-mar plantado.

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Humor e Marionetas

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Foto - Flor Branca

quinta-feira, março 15, 2012

A “AFIRMAÇÃO INSULTUOSA”

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, mostrou-se ofendido por uma “afirmação insultuosa” de um deputado do PCP, que sugeriu que o zelo do governo no cumprimento do programa com a ‘troika’ é antipatriótico.

O senhor ministro sentiu-se ofendido com pouco, para não dizer por nada, porque de facto os interesses dos cidadãos e as promessas de Passos Coelho quando se apresentou a votos, não foram tidos em conta nem estão a ser cumpridas, ao contrário do programa imposto pela ‘troika’.

A falta de respeito para com os cidadãos, por parte deste governo, é pública e notória. A esta constatação dos factos deve juntar-se um outro facto que se prende com a ‘ajuda’ prestada a Portugal pela ‘troika’ que é na verdade um empréstimo a juros elevados, superiores em mais de 4 vezes ao juro exigido pelo BCE à banca europeia.

A atitude de Vítor Gaspar contrasta com a dos seus homólogos, tanto da Irlanda como da Espanha, que tendo em conta os interesses dos seus cidadãos, não hesitam em renegociar certas condições impostas pela União Europeia e mesmo pela ‘troika’.

Será que o senhor ministro das Finanças tem colocado os interesses de Portugal e dos portugueses à frente dos interesses daqueles que nos emprestaram dinheiro? Será que a sua estratégia de submissão a um programa que deu maus resultados na Grécia é o melhor caminho?

O tempo se encarregará de julgar Vítor Gaspar, e 2013 está ao virar da esquina, se é que os portugueses e a nossa economia resistem até lá.


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Humor - Vergonha

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Fotografia - Sintra
Telhados by Palaciano

terça-feira, março 13, 2012

DIREITOS SÓ PARA ALGUNS

Ainda há pouco tempo se discutia se os direitos adquiridos dos cidadãos podiam ser postos em causa pelos governos sob qualquer pretexto. A discussão não era apenas teórica, mas os contornos jurídicos não foram ainda analisados.

Como curiosidade registe-se que algumas pessoas com ligações óbvias ao poder afirmaram que não há direitos adquiridos que não possam ser postos em causa, para além dos direitos fundamentais. A esponja que esses indivíduos passam sobre o texto da Constituição Portuguesa dizem bem do seu conceito de Democracia e de Estado de Direito, mas eles andam aí, e têm responsabilidades públicas.

Uma outra curiosidade prende-se com os direitos das grandes empresas privadas que participam em parcerias público privadas, ou que detém monopólios naturais outrora propriedade do Estado. Estas empresas têm contratos com o Estado, com condições leoninas, e os seus direitos não podem ser beliscados.

Resumindo as coisas temos que, os cidadãos não vêem respeitados os direitos adquiridos, já as grandes empresas escudadas em contratos “blindados” têm garantidos os seus direitos, seja qual for a situação do país.

Podia aqui elencar a Lusoponte, protagonista de um episódio caricato bem recente, ou a EDP que protagonizou o episódio mais recente que até teve reflexos no governo. Em sentido contrário podia citar os cortes dos subsídios de férias e de Natal, ou as alterações constantes das condições de reforma para trabalhadores com longas carreiras contributivas.

É difícil ver que o governo tem dois pesos e duas medidas consoante se trate de poderosos ou indefesos? Então a emergência nacional só serve para atacar os direitos de alguns? O governo não faz cedências como diz Passos Coelho?