Acho bem que se comece a falar
abertamente do que aconteceu a muitas centenas de milhar de pessoas, obrigadas
a voltar ao seu país de origem, ao dos seus ancestrais, ou mesmo aos que
fugiram de países a que chamavam a sua terra, para vir para o pais que tinham
jurado defender, mesmo noutras paragens.
Começando pela palavra
“retornado”, que teve sempre uma carga negativa pela parte de quem a proferia,
até à revolta legítima de quem se viu espoliado de todos os seus pertences,
obtidos por meios legítimos, até à humilhação a que foram sujeitos antes de
partirem de África, e sobretudo depois quando chegaram àquele que pensaram ser
o seu porto seguro. Não é difícil perceber o silêncio a que se remeteram,
enterrando a sua raiva, o seu desânimo e a sua esperança, para ultrapassar a
provação com a maior brevidade.
Há quem pense que houve medo de
parte de quem “retornou” de falar desse passado em África, ou até dos primeiros
tempos aqui onde encontraram um porto pouco receptivo. Talvez fosse de meditar
nas perguntas que eles podiam fazer e que não fazem porque são desnecessárias,
como:
-Porque não foram cumpridas
muitas promessas feitas antes da entrega dos territórios?
- Porque é que Portugal não
indemnizou quem viu nacionalizados ou confiscados os seus bens?
Outras perguntas mais incómodas
podiam dizer respeito ao ouro que o Estado português retirou dos bancos em
África antes das independências, ou porque se silenciaram massacres de
portugueses, e não só, imediatamente antes das grandes vagas de refugiados.
O passado não volta e as feridas
sararam mais depressa do que as dos povos aos quais foram dadas as
independências, e isso é talvez o maior legado que os “retornados” deram à
nação que tão mal os tratou. Vidas destroçadas e muita gente amargurada,
conseguiram construir novas vidas, muitas vezes novas famílias, e meia dúzia de
anos depois, ninguém falava já de “retornados” nem de “colonos”.
https://www.facebook.com/Yronikamente/photos/a.583312688361552.154143.583260545033433/1263099710382843/?type=3&theater
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