Sete leões e o profeta no meio,
com óculos, de preto, guarda chuva
e uma saudade desbotada
no bolso do coração.
O céu triste e calado como os mortos;
as colinas à espera de pintor
e o rio como um doido a bater palmas
e a babar-se nas fragas.
Sete leões da terra de ninguém
todos goelas força e sede viva.
O profeta no meio, tão profeta
que o medo lhe parecia Anjo da Guarda.
Magro, pois a comida de palavras
nunca foi coisa que matasse a fome...
corpo talhado a jeito de baínha
ao espírito - uma espada feita de ar.
Sete leões como os sete pecados,
ali, inteiros, no Jardim de Deus;
as portas milenárias em pedaços
e o Todo-Alma a estuar de fé.
A cada uivo – um murmuro versículo;
para o raspar das unhas as mãos juntas
e aos saltos decisivos como raios,
um - Satan, vade retro! e o guarda-chuva!
Depois... tudo acabou na digestão
do profeta, do rio e até do céu!
Mas um poeta virá com outros sóis
para ver nascer flores dos cadáveres dos leões.
Coimbra – 1943
In “Sete Luas”
Editorial Inquérito Lda.
António de Sousa
1898 – 1981
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Pinturas de Goya
boa busca par um belo poema
ResponderEliminarSaudações amigas
- Um é pouco, dois é bom e três é ímpar.
ResponderEliminar- Já que estamos no inferno, não custa nada dar uma rasteira no diabo.
- Melhor acender uma vela para Deus do que dez para o Diabo.
- É melhor morrer do que perder a vida.
- Como este poema épico faz grande sentido, pedi a ele para marchar até a esquina da loucura.