Palavras dum faisão
Perdi-me d'amor!
É uma pomba muito azul -
Um azul cor de céu quando há sol;
E hei-de fugir com ela
Por causa dum rouxinol ciumento
Que me apoquenta
Dizendo
Melodias de ironia penetrante.
Iremos
A esse país nevoento,
Lendário, belo, distante,
Lá onde a Lua se esconde
Em névoas que eternamente lá pairam...
Ó névoa, porque envolveis
O país de Lord Byron?
Às vezes
Penso num pajem que me teve
E num rei que me beijava
Quando a Rainha dormia...
Mas quando lho disseram
Bateu-me tanto
Que eu em longos ais morria...
Não ouvem?...
Lá continua
De novo
O rouxinol a dizer...
Ai, mas, se houver
Uma pequena verdade
No que ele insinua
- É lume caindo numa ferida -
Jamais aqui voltarei.
Num lago da velha Escócia
Darei fim à minha vida.
António Botto
Um poeta "maldito", despedido da função pública num processo deveras interessante, por uma sociedade hipócrita. Vale a pena ler AQUI e AQUI.
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Fotografias
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Humor Árabe
QUERIDO AMIGO JOSÉ, NUNCA TINHA LIDO NADA DE ANTÓNIO BOTTO E ADOREI... BELA ESCOLHA... UM ABRAÇO DE CARINHO,
ResponderEliminarFERNANDINHA
Um poema muito bonito para ler e reler com atenção. Um sujeito poético muito crítico, muito lúcido, muito atento à realidade. Actual!
ResponderEliminarUm abraço
Bem-hajas!
Uma surpresa teres escolhido o António Botto, mas já devia estar habituada às tuas surpresas.
ResponderEliminarBjos da Sílvia
Merecida homenagem ao
ResponderEliminarpoeta António Botto.
Já tinha ouvido falar no nome deste poeta,
mas desconhecia sua vida e obra.
Belissímo poema.
É quase sempre assim,
a quem tem valor,este só lhe é dado,
após a morte.
cumps
Coitado, não morreu num velho lago escocês, mas sim atropelado em Copacabana, quando atravessava aavenida.
ResponderEliminarPoeta maldito, sim, pois assumiu-se como homossexual e grande parte dos seus poemas celebram seus amores homófobos.
Foi elogiado por grandes da época como Unamuno, Garcia Lorca, António Machado, Camilo Pessanha, Virginia Wolf, Teixeira de Pascoais, Luigi Pirandello, Stephan Zweig, Rudyard Kipling..., que o consideraram um dos poetas mais brilhantes do seu tempo. James Joyce chamou-lhe " o poeta do amor e da paixão".
Foi protegido por Fernando Pessoa, que lhe traduziu para inglês o seu "O Livro das Crianças" que foi aprovado na Irlanda como leitura escolar (Children's Book).
No entanto, escreveu algo que empequenece definitivamente a sua pessoa aos meus olhos:
"Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho, todo nu, gosto!
Sem ter pentelho nenhum
com certeza, não desgosto,
Até gosto!
Mas... gosto mais de fedelhos.
Vou-lhes ao cu
Dou-lhes conselhos,
Enfim... gosto
in Natália Correia (org.), Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, Lisboa, Afrodite, 1966
Hoje, como seria visto Botto com este poema senão como um pedófilo?
Cumps.
Caro Jorge P.G
ResponderEliminarSei que conhece bem a obra de Botto, e que pretendeu apenas mostrar um outro lado de uma pessoa brilhante, mas que não é exemplo de vida nem modelo para ninguém.
Os dois links têm informação suficiente para que cada um possa ter uma ideia sobre o autor.
Lembrar António Botto no aniversário da sua morte não significa gostar de toda a sua obra, que teve uma fase brilhante e uma outra onde a demência fica bem patente. Claro que há na sua obra, coisas com que me não revejo, mas tal como Pessoa (ou Álvaro de Campos), apetece-me dizer a muitos: "Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. (...) Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível", ao invés de fazer o que muitos situacionistas esclarecidos e letrados da época fizeram, e publicaram na revista Ordem Nova.
Pagou caro os seus vícios e a sua diferença, paz à sua alma!
Cumps
José Lopes
Guardião
ResponderEliminarExcelente esta escolha, não só pela qualidade do autor mas pelo facto de ter sido um proscrito. Era uma rapaz pobre, não provinha de elites para que os demais fizessem vista grossa ao que sabiam não ser aceite pelas sociedades da época.
Hoje a história repete-se com outros contornos mas no fundo, no fundo, ainda temos muito daquela época. Por isso esta chamada de atenção poderá ser também um bom momento de reflexão.
Abraço
Saudações amigas
ResponderEliminarDeve ter feito regra porque nunca mais houve poetas na função pública! Oh que bom que deveria ser ser atendido nas finanças por um poeta!
ResponderEliminarUm abraço mais toino do que poeta
Caro Guardião,
ResponderEliminarJá aqui muito ficou dito sobre António Botto.
No aniversário da sua morte, lembraste a muitos um poeta que se deve conhecer, independentemente do juízo que cada um faça da sua obra ou do seu carácter.
Isso é, para mim, o mais importante.
Bem hajas!
Um abraço
Fez-me lembrar , esse despedimento, o Vaticano e "Milk"
ResponderEliminarFique bem.