Mostrar mensagens com a etiqueta Outono. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Outono. Mostrar todas as mensagens

sábado, dezembro 04, 2010

A Poezia do Outomno

Noitinha. O sol, qual brigue em chammas, morre
Nos longes d'agoa... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poezia escorre
E os bardos, a sonhar, molham a penna!

Ao longe, os rios de agoas prateadas
Por entre os verdes cannaviaes, esguios,
São como estradas liquidas, e as estradas
Ao luar, parecem verdadeiros rios!

Os choupos nus, tremendo, arripiadinhos,
O chale pedem a quem vae passando...
E nos seus leitos nupciaes, os ninhos, 
As lavandiscas noivam piando, piando!

O orvalho cae do céu, como um unguento.
Abrem as boccas, aparando-o, os goivos...
E a larangeira, aos repellões do vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.

E o orvalho cae... E, á falta d'agoa, rega
O val sem fruto, a terra arida e nua!
E o Padre-Oceano, lá de longe, prega
O seu Sermão de Lagrymas, á Lua!

Tardes de outomno! ó tardes de novena!
Outubro! Mez de Maio, na lareira!
Tardes...
Lá vem a Lua, gratiae plena,
Do convento dos céus, a eterna freira!

António Nobre, in 'Só'


««« - »»»
Foto - Sintra
Regaleira by Palaciano

««« - »»»
Humor da Casa

segunda-feira, outubro 19, 2009

DO SENTIMENTO TRÁGICO DA VIDA

Não há revolta no homem

que se revolta calçado.

O que nele se revolta

é apenas um bocado

que dentro fica agarrado

à tábua da teoria.


Aquilo que nele mente

e parte em filosofia

é porventura a semente

do fruto que nele nasce

e a sede não lhe alivia.


Revolta é ter-se nascido

sem descobrir o sentido

do que nos há-de matar.


Rebeldia é o que põe

na nossa mão um punhal

para vibrar naquela morte

que nos mata devagar.


E só depois de informado

só depois de esclarecido

rebelde nu e deitado

ironia de saber

o que só então se sabe

e não se pode contar.


Natália Correia



««« - »»»
Fotografia Outonal
Belmonte

««« - »»»
Humor Outonal