Em quase tudo na vida é possível concordar-se com algo ou discordar com isso mesmo. As condicionantes são diversas, e influenciam a nossa opinião. As decisões mais difíceis, talvez mesmo as mais importantes colocam-nos de um dos lados de uma qualquer barricada, e a razão pode estar noutro lugar qualquer, ou até assistir a ambos os lados.
Estava a pensar na anunciada greve dos trabalhadores das grandes superfícies na véspera de Natal. Já ouvi alguns a barafustar afirmando que vão ser prejudicados porque era precisamente na véspera de Natal que tinham planeado as compras. Estes são os possíveis clientes, mas também temos os patrões, e a UGT, que vêm dizer que não é oportuna a greve e que o emprego é mais importante que os direitos, e que se querem lutar esta não é a ocasião mais propícia.
Tudo é passível de ser rebatido, começando pelo argumento dos que se sentem prejudicados, que bem podem recorrer ao mercado tradicional, contribuindo para a manutenção de muitos mais postos de trabalho, o que a UGT estranhamente não refere. Quanto ao patronato também se pode perguntar se é oportuno aumentar agora o horário de trabalho para as 60 horas, afinal estamos na quadra das festas da família?
Eu faço as minhas compras com tempo, se me esquecer de alguma coisa, tenho bons vizinhos a quem recorrer, e o conveniente plano B. Com o vencimento que a maioria dos empregados dos grandes centros comerciais ganha (uma ninharia), a vontade e o estímulo para encher a barriga aos patrões deve ser igual ou abaixo de zero. Porque raio terá um empregado de uma grande superfície trabalhar 60 horas semanais quando isso favorece o patrão e não pode tirar por exemplo as férias quando mais lhe convém devido às férias dos filhos ou do cônjuge?
Alguém acha que existe equilíbrio nas relações laborais? Talvez comece a ser altura para se pensar até onde é que estamos dispostos a ceder enquanto trabalhadores por conta de outrem! Eu estou à beira da reforma e não trabalho em nenhuma grande superfície.