sábado, abril 25, 2020

25 DE ABRIL


 CRAVOS VERMELHOS

Bocas rubras de chama a palpitar,
Onde fostes buscar a cor, o tom,
Esse perfume doido a esvoaçar,
Esse perfume capitoso e bom?!

Sois volúpias em flor! Ó gargalhadas
Doidas de luz, ó almas feitas risos!
Donde vem essa cor, ó desvairadas,
Lindas flores d´esculturais sorrisos?!

...Bem sei vosso segredo...Um rouxinol
Que vos viu nascer, ó flores do mal
Disse-me agora: "Uma manhã, o sol,

O sol vermelho e quente como estriga
De fogo, o sol do céu de Portugal
Beijou a boca a uma rapariga..."


Florbela Espanca in Trocando olhares (1916)



2 comentários:

  1. Quem diria que tantos anos antes Florbela Espanca ia escrever um tão belo poema, como se antevisse o significado que ele iria ter na nossa vida.
    Um abraço e bom fim de semana


    Liberdade

    Meu sonho de menina

    Na vida suspensa

    Nas palavras amordaçadas

    Vermelhas como sangue

    Derramado

    No cárcere da ditadura.

    Eras a musa sonhada

    Pelos poetas deste país

    Amordaçado.

    Mulher desejada e proibida

    Nos sonhos dos homens

    Do Minho a Timor.

    Liberdade

    Eras o farol procurado

    Que todos acreditavam

    Havia de os guiar

    À libertação

    Da longa e tempestuosa

    Noite fascista.

    Mas eras também

    Semente a germinar

    Coragem.

    No corpo e alma das gentes

    Do meu país.

    À espera do momento certo.

    Emergiste em Abril

    Determinada

    Nas mãos crispadas

    Sobre as armas

    De homens audazes.

    A esperança e o sonho

    Nos carros de combate

    Rasgando as trevas da noite.

    Liberdade

    Enfim chegaste

    Rubra como o sangue

    Derramado

    Nos campos de batalha.

    Pacífica como um cravo

    No cano de uma espingarda.

    Elvira Carvalho

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