Quando nasci, no início da
segunda metade do século passado, em Moçambique, era considerado um branco de
segunda, ou português de segunda, por ter pais portugueses e brancos, e eu ter
nascido em África. Este tipo de classificação perdurou até à década de 60 e só
depois deixei de ouvir falar nela.
Por mais estranho que possa
parecer, para quem não viveu a segunda metade dos anos 70 lá pela África
Ocidental, após a independência de Moçambique eu fui (e fomos muitos), forçado
a escolher uma nacionalidade entre duas opções, ou me registava como português,
ou em alternativa moçambicano. A dupla nacionalidade não era opção. Na
realidade não foi difícil escolher, pois mesmo sendo moçambicano por nascimento
e por direito, a minha cor não era conveniente, pois os brancos eram
colonialistas e exploradores por princípio.
Por fim chegado a Portugal
descobri que sendo português por direito, era também rotulado de retornado (o
que não era rigoroso), e de colonialista e explorador de africanos.
Estas curiosidades nunca me
afectaram verdadeiramente, e refiz a minha vida vivendo sempre bem comigo
mesmo, continuando a amar África e a considerar-me um português de pleno
direito, lamentando apenas que as coisas tenham acontecido deste modo, e que o
resultado tenha sido tão prejudicial, especialmente para o povo moçambicano,
independentemente da cor da pele.
Zé,como gostei de ler estas tuas memórias da nossa África.
ResponderEliminarFoi uma viagem ao passado tão saudoso.
Como eramos felizes… só nós os que vivemos aquela realidade que poucos por cá entendem.
Um abraço grande, Zé!