terça-feira, fevereiro 04, 2020

CURIOSIDADES PESSOAIS


Quando nasci, no início da segunda metade do século passado, em Moçambique, era considerado um branco de segunda, ou português de segunda, por ter pais portugueses e brancos, e eu ter nascido em África. Este tipo de classificação perdurou até à década de 60 e só depois deixei de ouvir falar nela.

Por mais estranho que possa parecer, para quem não viveu a segunda metade dos anos 70 lá pela África Ocidental, após a independência de Moçambique eu fui (e fomos muitos), forçado a escolher uma nacionalidade entre duas opções, ou me registava como português, ou em alternativa moçambicano. A dupla nacionalidade não era opção. Na realidade não foi difícil escolher, pois mesmo sendo moçambicano por nascimento e por direito, a minha cor não era conveniente, pois os brancos eram colonialistas e exploradores por princípio.

Por fim chegado a Portugal descobri que sendo português por direito, era também rotulado de retornado (o que não era rigoroso), e de colonialista e explorador de africanos.

Estas curiosidades nunca me afectaram verdadeiramente, e refiz a minha vida vivendo sempre bem comigo mesmo, continuando a amar África e a considerar-me um português de pleno direito, lamentando apenas que as coisas tenham acontecido deste modo, e que o resultado tenha sido tão prejudicial, especialmente para o povo moçambicano, independentemente da cor da pele.



1 comentário:

  1. Zé,como gostei de ler estas tuas memórias da nossa África.
    Foi uma viagem ao passado tão saudoso.
    Como eramos felizes… só nós os que vivemos aquela realidade que poucos por cá entendem.
    Um abraço grande, Zé!

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