domingo, novembro 27, 2005

A PAZ PODRE

Para o espectador menos atento pode ficar uma imagem de paz absoluta na área do Património, facto reforçado pela não realização de greve, nem sequer no período da Páscoa, e por não ter sido noticiada qualquer contestação dos funcionários dos museus, palácios e monumentos durante este ano.
Os trabalhadores deste sector da Cultura souberam, apesar de terem muitas razões para protestar, deixar passar os momentos de turbulência política e da indefinição das chefias e das mudanças na tutela, para exigirem a atenção e o diálogo com o Ministério da Cultura. Os problemas existem e são necessárias mudanças, contudo agora ninguém pode culpar os trabalhadores e os sindicatos pela situação em que nos encontramos.
Há prioridades nas reivindicações, começando pelos horários dos guardas de museu e vigilantes-recepcionistas, passando pelos quadros do pessoal dos serviços, pela formação profissional, pela correcção das injustiças criadas pela última revisão das carreiras e até pela questão dos fardamentos e dos atrasos nos pagamentos do trabalho extraordinário. Estas questões são antigas, já foram muito debatidas mas os diferentes titulares da pasta da Cultura demonstraram sempre ser incapazes de fazer avançar o processo, por manifesta falta de peso político dentro dos diversos governos.
O ano de 2006 vai concerteza ser muito diferente, se nada for feito, e ainda há algum tempo para se evitarem greves e outro tipo de contestação que já começa a ser sugerida.

sexta-feira, novembro 04, 2005

COMEÇAR PELO TELHADO

Todos sabemos que os museus, palácios e monumentos têm falta de recursos humanos, e que esta carência já levou até ao encerramento total ou parcial de alguns serviços. É publico que o Ministério da Cultura tem recorrido na última dezena de anos à contratação a prazo de pessoal de vigilância recorrendo a pessoas inscritas nos Centros de Emprego, aos quais dá formação e mantém por um período nunca superior a 18 meses.
Isto vem a propósito dum despacho da Lusa e da notícia do DN de 4 de Novembro, onde foi divulgada a intenção de admitir cerca de 230 professores por um prazo de 1 ano, com possível integração nos quadros do Ministério da Cultura. A ideia não é inteiramente descabida nem suscita, em princípio qualquer contestação, pelo menos da minha parte, mas fica-me uma dúvida sobre aquilo que a ministra parece não ter dito, atendendo às notícias publicadas.
Há muitos anos que o Ministério da Cultura tem vindo a dizer aos trabalhadores que, apesar da reconhecida falta de pessoal na área da vigilância, nada podia fazer no que toca à admissão de pessoal desta categoria para os quadros, por motivos orçamentais levantados pelo Ministério das Finanças e também devido ao congelamento imposto pelo(s) governo(s). Então agora já não existem estas condicionantes apesar dos despachos só serem apresentados pelos titulares da Cultura e Educação ?
É intrigante que, começando pelo telhado, se vá apostar nos serviços educativos sem estar assegurada a abertura dos serviços, tarefa desempenhada pelos vigilantes-recepcionistas. Curioso também é o número de professores adiantado, que é sensivelmente igual ao de vigilantes que neste momento estão contratados a termo certo para poder ser possível manter os serviços abertos.
Não há quem entenda as prioridades da senhora ministra da Cultura, as que saem nos jornais pelo menos, porque ainda não houve da sua parte disponibilidade para receber os representantes dos trabalhadores.

terça-feira, novembro 01, 2005

1755 - TERRAMOTO E PATRIMÓNIO

Passados 250 anos relembra-se o desastre e as perdas humanas mas não se ouve uma palavra sobre os danos no património que chegou até aos nossos dias. O raro exemplo, mostrado com insistência nesta data, é o Convento do Carmo.
Poucos sabem, e quase ninguém o diz, mas muitos outros monumentos que conhecemos sofreram estragos consideráveis por causa do terramoto de 1755. Ainda que se fale geralmente no terramoto de Lisboa ele fez-se sentir numa área muito vasta e causou danos bem longe da capital.
Fala-se bastante da destruição do Paço da Ribeira, pouco se ouve sobre os monumentos de Belém, mas nada se diz sobre danos no Palácio de Sintra, no Mosteiro de Alcobaça e no da Batalha, para só citar alguns. Conhecem-se vagas referências a danos nos tectos do Palácio de Sintra, fala-se na possível queda duma torre onde estaríam situados os aposentos de D. João I e também há quem tente imaginar como sería a Capela do Fundador (Mosteiro da Batalha) antes do lanternim que hoje conhecemos.
Perante estas e outras evidências mais ou menos fundamentadas surge a pergunta, porque é que não se conhecem estudos sobre os danos causados no património que ainda podemos visitar ? A investigação e a sua posterior divulgação não são realidades nem prioridades pelo que se pode constatar.

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