segunda-feira, maio 15, 2006

POLÍTICAMENTE (IN)CORRECTO

Há já alguns anos que os governos, diversos por sinal, andam a propagandear medidas para reduzir e moralizar a despesa por razões de competitividade e devido ao défice público. Resumidamente aumentaram-se os impostos, reduziram-se os salários reais, desregulamenta-se o trabalho e retiram-se direitos a pretexto de serem consideradas regalias.
Apesar da imensa propaganda e de leituras parciais de dados estatísticos, a realidade é que os bolsos da maioria dos portugueses estão mais vazios e as finanças do país não apresentam melhorias como todos sabem.
Há alguns exemplos gritantes de que o politicamente (in)correcto apresentado como solução para a economia é socialmente injusto e reprovável, a saber:
- Políticos que recebem reformas por actividades políticas anteriormente exercidas e que continuam ainda a exercer acumulando reforma e vencimento permitem-se reduzir futuras pensões dos trabalhadores que têm carreiras contributivas completas, e não de 6 ou 8 anos como é o caso de muitos que nós conhecemos.
- As diferenças de rendimentos do trabalho na esfera dependente do Estado é cada vez maior, mas continuam-se a criar situações excepcionais para quadros de topo, com vencimentos e outras regalias que ultrapassam em muito o imaginável. Será que um dia virá alguém que proponha aumentos do mesmo montante para todos do topo até à base? É que a vida custa a todos, e não há bons gestores sem funcionários competentes.
- Está ser equacionado um sistema de prémios para os gestores que tenham bom desempenho, salvo erro não me parece que alguém tenha equacionado alguma medida idêntica para os subordinados, ou será que o gestor será o único a que o merece? Afinal também ele foi contratado para obter resultados.
- O que dizer das senhas de presença que alguns recebem para estar presentes no trabalho? Sim temos comissões, órgãos consultivos e sei lá o que mais onde há destas aberrações, melhor, compensações.
Chega de nivelar por baixo, para manter os condomínios fechados e outras torres de marfim a que só alguns parecem ter direito.

terça-feira, maio 09, 2006

OS ILUMINADOS

Numa altura em que se fala na reforma da função pública com contornos que ninguém conhece, tal o secretismo que a rodeia, importa reflectir pelo menos numa medida que à partida poderia ser aceite como justa e exequível: a avaliação do desempenho.
Vamos reportar-nos à área do Património como exemplo duma ideia que podendo parecer boa esbarra completamente com o bom senso, e com aquilo que a prática nos ensina a todos que conhecemos o meio. Para começar temos os objectivos dos serviços que parecem uma listagem de boas intenções com que todos concordariam, se houvessem os meios materiais e humanos necessários, o que não é o caso. Continuando, há que mencionar que os objectivos dos dirigentes dos serviços não são conhecidos, embora sejam fáceis de determinar pelas constantes estatísticas solicitadas sobre as receitas do local de trabalho.
O objectivo, não confessado é claro, é o de aumentar as receitas em 10 ou 15% relativamente ao ano anterior pelo que se percebe pelos sinais dados, como se o fluxo de visitantes fosse passível de ser determinado, ou se os funcionários pudessem contribuir verdadeiramente para que isso pudesse acontecer. O aumento de visitantes do Mosteiro da Batalha depende muito mais do afluxo de visitantes de Fátima e da divulgação do mosteiro do que do bom serviço prestado, do mesmo modo o público do palácios de Sintra e Queluz depende grandemente da fluidez ou dos engarrafamentos da IC-19 e todos os monumentos estão sujeitos às flutuações do turismo internacional que dependem de factores exógenos que ninguém controla na realidade.
As ideias tidas em gabinete podem parecer sedutoras, mas caem por terra por falta de conhecimento das realidades. Para além desta ficção apetece questionar que meios foram postos à disposição dos serviços para se alcançarem estes ou outros objectivos? Falamos de formação profissional, de melhorias dos espaços museológicos, de reforço do pessoal para a época de maior afluxo de visitantes, na promoção do Património além fronteiras, na colaboração com os agentes turísticos, na renovação dos produtos à venda nas lojas, nos planos de segurança dos monumentos, etc. ...
Vamos ser realistas, não teremos melhorias sustentadas se continuarmos a pretender fazer reformas que não envolvam os funcionários, como tem acontecido até aqui.