domingo, setembro 30, 2018

O IMOBILISMO NA CULTURA


O sector da Cultura ligado ao Património, na alçada da Direcção Geral do Património Cultural, está completamente paralisado e sem qualquer rumo definido, como transparece do facto de quase metade dos directores de museus estão em regime de substituição.

A situação não é irregular, pois está prevista na lei, contudo o número de serviços nesta situação e o tempo decorrido desde o final das comissões de serviço, mostra que não há vontade de alterar nada neste sector, o que é muito estranho.

Falou-se numa alteração na estrutura dos serviços ligados ao Património, mas não se conhecem nenhuns desenvolvimentos, e a discussão interna de alguns assuntos como a autonomia dos museus, em que os intervenientes são associações como a APOM e ICOM, e só depois com os directores dos museus, ficando de fora todos os restantes trabalhadores (a maioria), não augura nada de bom e de novo.

Será que com este ministro as coisas poderão mudar?



PATRIMÓNIO E COMPORTAMENTOS

Um dos maus comportamentos mais comum praticado pelos visitantes dos nossos museus, palácios e monumentos é o de tocar nos que está exposto, sejam pinturas, esculturas, móveis, ou porcelanas.

Comportamentos desta natureza atentam contra o Património, e o próprio bom senso os desaconselha, mas mesmo assim são frequentes.

A reacção de da maioria das pessoas é o pedido de desculpas, que bem podia ser evitado, mas existem reacções muito mais caricatas, como a de se dizer que "estava só a ver se...", como se os olhos estivessem na extremidade dos dedos, ou a dos que se sentem ultrajados, que respondem com toda a arrogância que "não está sinalizado em lado nenhum que não se pode tocar".

Na ocasião em que se comemoram as Jornadas Europeias do Património, penso que relembrar que não se deve tocar no que está exposto nos museus, palácios e monumentos, é o melhor comportamento para que possamos transmitir o que nos foi legado chegue aos nossos descendentes, é uma boa ideia.

quinta-feira, setembro 27, 2018

SERÁ QUE SOFRO DE TURISMOFOBIA?

Sempre que falo de espaços onde a pressão turística é exagerada e ameaça não só o Património, como também os residentes em algumas zonas, e a qualidade do que temos para oferecer aos próprios turistas, logo alguém diz que eu sofro de turismofobia.

A importância do turismo enquanto fonte de receitas, é evidente, como evidente é o interesse demonstrado pelos turistas em conhecer o país, mas também é verdade que para satisfazer essa procura não podemos prejudicar os portugueses residentes nas zonas onde existe a maior pressão, nem tão pouco a qualidade do que temos para oferecer, que é a autenticidade.

O que se passa em Veneza, Londres, Palma de Maiorca, Santorini, Milão ou Barcelona, devia servir de alerta, porque estes destinos e outros tentam soluções para resolver os efeitos negativos do excesso de pressão turística.

Conhecendo bem o sector acho que se podiam tentar promover outros destinos alternativos, para libertar zonas mais sobrecarregadas, virar atenções para o interior e para o seu Património edificado e natural, sem esquecer costumes, vinhos, e a nossa gastronomia que são trunfos muito poderosos.


No fundo temos que, diversificando destinos até podemos aumentar o número de turistas sem os defraudar e sem prejudicar os cidadãos.


terça-feira, setembro 25, 2018

DE EXCEPÇÃO EM EXCEPÇÃO…


Em Portugal sempre existiu, e existe, o nacional porreirismo, que se traduz no “jeito”, na “cunha”, e na “excepção”, que parecendo actos inofensivos são na verdade comportamentos que acabam por se tornar banais e prejudiciais para todos.

Não se julgue que estou a falar dos grandes assuntos que descambam em corrupção, favorecimento ilícito, ou outro qualquer crime, daqueles que enchem páginas dos jornais, mas sim de coisas que vemos todos os dias, e às quais nem prestamos grande atenção.

Quando queremos resolver algum assunto, falamos com um amigo que nos ajuda a ultrapassar as dificuldades, ou o tempo de espera. Se queremos encontrar um emprego para uma amigo ou familiar, há sempre alguém bem colocado, ou com bons contactos, que contactamos. Se temos alguma pressa estacionamos mal ou quebramos uma ou duas regras de trânsito. Quanto aos horários queremos sempre que as lojas ou serviços abram a horas, mas quanto ao fecho queremos sempre mais um bocadinho, e se o pedido não for aceite, lá vem a ameaça de queixa ou reclamação.

Estes comportamentos tão habituais dizem muito sobre o rigor com que encaramos as regras, sejam elas as leis sejam apenas as do bom senso. É difícil mudar comportamentos, mas talvez tudo pudesse melhorar um bocadinho…


O retrato

domingo, setembro 23, 2018

AFIRMAÇÕES EXTRAORDINÁRIAS

Esta semana tivemos mais uma pérola do retratado:
 
... mais uma vez digo que o problema não está nos políticos, é um problema da má qualidade dos eleitores.

Porque será que quando se decide mal a culpa é sempre de quem não tem o poder de decidir? Que tal falar em mudanças no sistema eleitoral?


sexta-feira, setembro 21, 2018

EXPOSIÇÃO DE MAPPLETHORPE

Decorre em Serralves a anunciada exposição de fotografias de Robert Mapplethorpe, um fotógrafo muito polémico, que explora muito a sexualidade do corpo masculino, o auto retrato, e a fotografia de flores.
Como já se esperava, em Serralves existem restrições, pelo menos em duas salas, a menores de 18 anos, estando isso mesmo indicado à entrada das salas.

Não foi isso que tinha sido anunciado por João Ribas, o director do museu, mas podia ser pior, como nos EUA onde algumas exposições chegaram mesmo a ser canceladas.

Vamos ver como serão as reacções a esta exposição.

Fotografia do Público

quarta-feira, setembro 19, 2018

CURIOSIDADES

Segundo consta (não encontrei desmentidos formais) esta imagem dum astronauta aparece na decoração da Porta de Ramos duma catedral de Salamanca, depois dum restauro efectuado em 1992, durante o qual alguém decidiu deixar um testemunho de modernidade, de acordo com a época que ele foi efectuado. 
*** PUBLICIDADE EM 1901 ***


1

terça-feira, setembro 18, 2018

FACTOS QUE NÃO COMENTO

A nossa sociedade é muito complexa, como aliás o próprio ser humano, contudo existem sempre factos que nos deixam perplexos, ou reacções aos mesmos que não conseguimos entender, ainda que possam ser legítimas e politicamente correctas.

Viva a diversidade.

FACTOS CURIOSOS
 
Segundo o guionista da Rua Sésamo, Mark Saltzman, existe um relacionamento homossexual entre o Egas e o Becas desta série infantil, e que na realidade os dois personagens eram afinal namorados.


Estas esculturas de Antoni Miró, em Valência, estão a ser alvo de uma polémica em todas as redes sociais e na imprensa, pois parece que escandalizam alguns. Note-se que são baseadas em cerâmicas gregas com 2.600 anos.


OS TRONOS DE D. JOÃO VI (cont)

Este trono esteve em exposição no antigo Palácio de S. Cristóvão, casa dos Braganças no Brasil, e depois Museu Nacional do Brasil que ardeu na sua totalidade há poucos dias.

Não existem pois dúvidas que estes dois tronos, agora desaparecidos, pertenceram a D. João VI, pois existem provas documentais que suportam esta afirmação.

É uma pena que uma sala tão emblemática e bela como a Sala do Trono do Palácio Nacional de Mafra, exiba uma cadeira muito banal, e nunca se tenha pensado em mostrar uma réplica dum trono verdadeiramente de D. João VI, o rei que mais tempo passou neste palácio.

Podem afirmar que uma réplica não é adequada, mas continuo a achar que, desde que devidamente identificada, e fiel ao original, é mais própria do que uma outra cadeira qualquer.

Existe mais outra curiosidade que encaixa na perfeição no título “Os Tronos de D. João VI”, que é o trono oferecido a este monarca pelo príncipe do Daomé, Adandozan, em 1810, que é mais antigo do que o Museu Nacional, sendo portanto uma das suas primeiras peças, que infelizmente também se perdeu no incêndio.

Trono de Daomé

Nota: Sei que existem outros tronos de monarcas portugueses, como o que se diz ser de D. Afonso VI e o de D. Maria II, por exemplo, mas isso não invalida que se dê o devido relevo a D. João VI, e aos seus pertences, no Palácio Nacional de Mafra, ao invés de se teimar em falar nas “coxinhas de frango nos bolsos”, de cada vez que se mostra um retrato menos feliz exposto nos aposentos do rei.

sábado, setembro 15, 2018

OS TRONOS DE D. JOÃO VI

No passado dia 6 de Julho descrevi aqui o trono acústico de D. João VI, criado por F. C. Rein em 1819 para ser utilizado pelo rei. Está descrito e ilustrado por Elisabeth Bennion no seu livro Antique Hearing Devices.

Ainda segundo Elisabeth Bennion…”embora contrariados, os cortesãos eram obrigados a se ajoelhar e falar junto à boca dos leões levando suas palavras até os ouvidos do Rei…” O trono certamente foi feito segundo as directrizes da F.C.Rein de modo a acondicionar os ressoadores inventados por este, que, escondidos nos lados e no fundo do trono amplificavam os sons que eram dirigidos por um tubo até os ouvidos do rei.
 
 

Em Portugal não se conhecem tronos do tempo de D. João VI, mas isso não significa que não tenham existido, porque temos registos de outros tronos deste rei, sendo que um deles era o da foto situada abaixo, e sobre o qual falarei em próxima oportunidade.


quinta-feira, setembro 13, 2018

O PATRIMÓNIO E OS POMBOS

Muita gente acha que os pombos são inofensivos, que não há mal nenhum em os alimentar, com pão, bolachas e doces (sempre longe da própria residência), e que quem considera esses comportamentos prejudiciais, para a saúde das próprias aves, para a saúde das pessoas, e também para o património.

Para os monumentos os pombos são uma verdadeira ameaça, pois os dejectos estragam a pedra, a alvenaria, as madeiras e tudo o que tocam. As preocupações não acabam por aí, porque os ninhos tapam os algerozes e seguem-se as infiltrações, o salitre nas alvenarias, a deterioração das telhas, madeiras, etc.

Como é fácil de perceber o controlo desta peste (excesso de pombos) é difícil de fazer, envolve meios para os quais quase nunca há verba disponível, e muitas vezes suscita enormes resitências e mesmo incompreensões.


terça-feira, setembro 11, 2018

OS VIGILANTES DOS NOSSOS MUSEUS


Uma notícia do DN, veio trazer a lume, mais uma vez, a carência destes profissionais, ainda que não abordando todas as suas razões.

Este problema começou há muitos anos (mais de duas décadas) e coincidiu com o começo dos programas de ocupação de jovens nas suas férias, e com os de ocupação de desempregados, que se tornaram um hábito, até porque significavam alguma poupança, e os governos gostavam disso.

Enquanto se recorria a estes esquemas, tantas vezes denunciados pelos trabalhadores do sector, o pessoal dos quadros ia envelhecendo, e as admissões eram adiadas, até serem congeladas. Onde estava então o senhor António Pimentel?

Neste meio tempo entre o recurso aos desempregados e o congelamento das admissões, alguém teve a ideia peregrina de transformar a carreira de vigilante de museus numa carreira comum, passando a assistentes técnicos, mas com um horário de trabalho específico, o que é no mínimo inconstitucional, por ser discriminatório, já que lhes retira a possibilidade do pagamento diferenciado dos sábados e domingos, como é devido aos restantes assistentes técnicos.

O mau resultado veio depois quando se abriram concursos para novas admissões, e logo que entravam os novos vigilantes, ficava logo claro que estavam de passagem rumo a outros ministérios onde não eram forçados a trabalhar, feriados, sábados, domingos e tolerâncias de ponto.

O director do Museu de Arte Antiga refere que recorre a tarefeiros, que tem cerca de 17 vigilantes do quadro, 17 conservadores, 8 bolseiros, uns 15 desempregados, e que gostaria de entregar boa parte da vigilância a empresas de segurança, referindo a responsabilidade civil, seja isso o que for.

António Filipe Pimentel é também um dos subdirectores-gerais da DGPC e mostra o pouco interesse que tem pelos vigilantes do seu museu, preferindo seguranças de empresas externas, como no passado fizeram com o pessoal de limpeza, e outras tarefas desempenhadas por aquilo que hoje designamos os assistentes operacionais.

Quando se reformarem os poucos e envelhecidos vigilantes (assistentes técnicos), os museus continuaram a existir, mas a sua experiência ter-se-á perdido, e os tais conservadores e outros técnicos superiores terão grandes dores de cabeça, e terão que deixar as suas cadeiras confortáveis e os seus gabinetes, para meter a mão na massa. Cá se fazem, cá se pagam…