terça-feira, agosto 02, 2011

A SABEDORIA DO HOMEM COMUM

Os ignorantes e o homem comum não têm problemas. Para eles na Natureza tudo está como deve estar. Eles compreendem as coisas pela simples razão delas existirem. E, na realidade, não dão eles provas de mais razão do que todos os sonhadores, que chegam a duvidar do seu próprio pensamento? Morre um dos seus amigos, e como julgam saber o que é a morte à dor que sentem por o perderem não acrescentam a cruel ansiedade que resulta da impossibilidade de aceitar um acontecimento tão natural... 

Estava vivo, e agora encontra-se morto; falava-me, o seu espírito prestava atenção ao que eu lhe dizia, mas hoje já nada disso existe: resta apenas aquele túmulo - mas repousa ele nesse túmulo, tão frio como a própria sepultura? Erra a sua alma em redor desse monumento? Quando eu penso nele é a sua alma que vem assolar a minha memória? O hábito traz-nos de novo, contudo, ao nível do homem comum.

Quando o seu rasto se tiver apagado - não há dúvidas de que ele morreu! - Então a coisa deixará de nos incomodar. Os sábios e os pensadores parecem portanto menos avançados que o homem comum, já que eles próprios não têm a certeza, em relação a si mesmos, do que pretendem provar... Sou um homem. Mas o que é um Eu? E um homem? Eles passam metade da sua vida a analisar, uma a uma, as mais pequenas coisas, a verificar tudo o que já se sabe; e a outra metade, passam-na a colocar os fundamentos de um edifício que nunca chega a levantar-se...

Eugène Delacroix, in 'Diário'

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Pinturas
Claro que se trata de um pintor, mas não foi isso que o impediu de pensar e de escrever sobre o que lhe apeteceu, transmitindo assim outra faceta sua que não está exposta em nenhum museu.

4 comentários:

  1. Será que os "sábios" são mesmo os que têm mais cultura e educação?
    Bjos da Sílvia

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  2. Eu devo ser diferente de toda a gente...
    Minha avó faleceu há 15 anos. Dedico-lhe tanto do que escrevo, é minha inspiração permanente. Há uns instantes de cada dia, em todos os meus dias que tudo em mim acusa a sua ausência. Assim com meu pai, irmão, outras pessoas a quem amei ou me marcaram. Há pessoas que só vi uma vez e de quando em vez ocorre-me que já não é possível mais vê-las e doi-me não o ter feito oportunamente. Ninguém é verdadeiramente sábio se a sua capacidade de sentir é diminuta. Porque é verdade que o homem é um ser racional, mas o que muito se esquece é que é também um Ser que Sente e a memória dos sentidos é a mais fidedigna das memórias. Um abraço amigo.

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