terça-feira, janeiro 13, 2009

ARY DOS SANTOS

Poeta castrado não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Ary dos Santos



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8 comentários:

  1. É sempre bom recordar bons poetas.
    Bjos da Sílvia

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  2. E nem na noite fascista, conseguiram castrar quem, com tão boa poesia de intervenção, ia dizendo o que não era permitido.

    Bem-hajas!

    Um abraço

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  3. Bela escolha
    Saudações amigas

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  4. O Ary dos Santos é um pedaço de nós. Se noutras coisas não o podemos igualar, pelo menos nesta podemos: castrados não!
    Um abraço-verso

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  5. Bem lembrado!

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  6. Bem lembrado, porque a memória não abunda neste país.
    Lol

    AnarKa

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  7. gosto sempre de recordar um tempo (e alguém) que... marcou a minha vida tão fortemente...
    é bom saber que há muitos mais que não esquecem

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