sexta-feira, junho 23, 2006

MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Ao ler no DN de 19 de Junho o título “UNESCO quer gerir melhor património”, referindo Sintra, fiquei desde logo interessado em apreciar o conteúdo da notícia. Li com atenção e fiquei abismado com tudo aquilo.
Comecei logo por discordar com o título que, devia ser “UNESCO quer património melhor gerido” porque é evidente que esta entidade não pretende (nem lhe compete) gerir, agora ou no futuro, qualquer património em Sintra ou noutras paragens. Acho mais curioso ainda que um parecer de Março tenha sido divulgado três meses depois, para mais quando se afirma que este organismo internacional “... quer que seja criada uma estrutura independente capaz de gerir a paisagem cultural de Sintra...”.
Pessoalmente não acredito nem em coincidências nem na inocência da oportunidade com que esta notícia surge.
Acredito que muita gente esteja completamente alheada deste assunto, mesmo os próprios jornalistas, mas há factos que podem e devem ser divulgados, e até investigados, relacionados com este tema.
Recuando uns anos, até ao ano de 2000, podemos perguntar se não foi este mesmo pretexto que originou a criação da empresa Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A. com o aval do próprio governo? Argumentava-se também na altura que havia um excesso de entidades com competências diversas a actuar nesta área (Sintra) dum modo completamente descoordenado.
O que aconteceu com esta sociedade anónima de capitais inteiramente públicos desde então até aos dias de hoje? Abreviando, pergunto só qual é o montante das dívidas acumuladas e que melhoria trouxe para a Serra de Sintra?
Há notícias que surgem, não se sabe bem porquê, nem de onde, e que aparentam ser isso mesmo; notícias, mas que servem interesses económicos ou políticos preparando o caminho para algo que ainda não é conveniente divulgarem.
Estrutura independente é algo pouco preciso, tanto mais que a dita sociedade anónima também encaixa no conceito. Esconderá tudo isto a privatização da gestão de toda esta Paisagem da Humanidade?
Aconselho a consulta do site
http://www.parquesdesintra.pt/ms/missao.htm para verificarem que afinal, já tudo devia estar resolvido desde 2000.

domingo, junho 18, 2006

O OUTSOURCING

Na guerra que este governo declarou aos trabalhadores da função pública temos ouvido até à exaustão diversas teorias que vão intoxicando a opinião pública, mas que não estão comprovadas nem são correctas.
Menos Estado, melhor Estado é dum dos exemplos que não colhe, desde logo porque quando nos viramos para os países do norte da Europa constatamos que se passa a situação inversa. O que falha então em Portugal? Será que o falhanço não se encontra na classe política que não tem competência para nos dirigir e pelo excesso de partidarização da máquina do Estado?
Outra mistificação é o pretenso excesso de funcionários, mas nunca ninguém diz onde nem quais. Também aqui se nota a falta de uma política correcta de recursos humanos, desorientação mesmo, e não há qualquer intenção visível de eliminar os imensos cargos ocupados por pessoal de confiança política que, mesmo não sendo verdadeiramente funcionários, enxameiam ministérios e direcções gerais consumindo verdadeiras fortunas ao erário público.
O outsourcing foi apontado até por um ministro como solução para muitas situações. A contradição salta à vista de qualquer cidadão, então se há funcionários a mais como é que se explica a contratação de serviços a entidades exteriores? Está mais que provado que esta solução (?) será apenas de cosmética pois apenas se transfere d a despesa de rubrica. Está ainda por provar que o outsourcing signifique alguma economia havendo até diversos exemplos que contrariam esta ideia.
Finalizando pode-se afirmar que esta ofensiva contra os funcionários públicos é prejudicial aos cofres do Estado, já o está a ser por manifesta desmotivação, e vai concerteza vir a reflectir-se na qualidade e no preço dos serviços públicos, a menos que o governo resolva reformar e modernizar a máquina do Estado com os funcionários e não contra eles.

sexta-feira, junho 09, 2006

MUSEUS PODEM FECHAR

As medidas anunciadas pelo governo, que apontam para a não renovação dos contratos do mercado social de emprego, POC’s e das aquisições de serviços, colocam em causa o regular funcionamento de museus, palácios e monumentos sob a alçada do Ministério da Cultura à medida que terminem os períodos de validade já acordados.
Numa breve ronda por alguns serviços dependentes do IPPAR ficámos a saber que o problema pode ocorrer já no mês de Julho, caso seja aplicada esta medida a trabalhadores que estão a terminar o primeiro ano de contrato, ou caso ainda haja uma renovação para os possíveis seis meses de prolongamento, será transferido para Novembro o inevitável problema de falta de pessoal.
Foi-nos transmitido que alguns directores estão a tentar transmitir algum optimismo para este Verão, mas a verdade é que ninguém está disposto a manifestar certezas sobre eventuais renovações. O caso é verdadeiramente preocupante pois estamos a falar do universo dos vigilantes-recepcionistas em que mais de 50% dos trabalhadores estão em situação precária e portanto abrangidos por esta resolução.
Este caso é um dos exemplos de cortes cegos para os quais já nos deram como resposta oficiosa que terá solução com recurso aos supranumerários. A resposta falha desde logo por ser tecnicamente inviável em tempo útil, e também porque este tipo de funções com os horários praticados e as remunerações existentes não terá certamente base de recrutamento no quadro de supranumerários.
Sempre dissemos que o recurso a pessoal com vínculo precário não era a solução para os problemas de falta de pessoal de vigilância dos museus, palácios e monumentos e que as medidas impostas pelo Ministério das Finanças apenas iriam agravar as coisas, os factos parecem dar-nos razão.
O s museus, palácios e monumentos podem fechar muito em breve, por falta de vigilantes e por manifesta falta de coragem do Ministério da Cultura.

terça-feira, junho 06, 2006

A TRAMA DAS ELITES

As despesas são muitas, as receitas não aumentam na mesma proporção, cada vez mais se torna difícil esconder o défice, há que arranjar culpados para este estado de coisas: o funcionalismo público.
Eles, os economistas reputados que já há dez ou vinte anos conhecemos e que passaram por governos, empresas públicas ou participadas, bancos outrora públicos e hoje privados, ou até por grandes grupos económicos, acham que é absolutamente inevitável cortar na função pública. O “monstro”, como alguém lhe chamou tem de emagrecer, temos Estado a mais em Portugal.
É muito curioso que se afirme que temos Estado a mais, e se dê como exemplo de milagre económico a Finlândia, mas deve ter sido um lapso estratégico. Não tenho ouvido os tais economistas e comentadores falarem dos países nórdicos como exemplos de bem-estar social, boa distribuição da riqueza gerada, cidadania e cumprimento das obrigações fiscais. Estou quase certo que só ouvi falar, em relação as estes países, a propósito do cartão único de identificação (que se encarregaram de perverter com diversos números) e na utilização de novas tecnologias e educação onde naturalmente nos dão cartas.
O neoliberalismo, de que são defensores convictos ou convertidos, não lhes permite descortinar que a virtude não está no sector público ou privado, mas na qualidade das suas classes dirigentes.
Esgrime-se frequentemente a expressão de “interesses corporativos”, sempre que alguém tenta contrariar a fúria neoliberal das privatizações, cortes sociais e despedimentos, mas nunca se fala dos grandes interesses económicos, da incompetência política e da “falência” das elites instaladas à sombra dos diversos poderes económicos e partidários.
O descrédito dos políticos portugueses é o resultado das assimetrias sociais, pela inversa, nos países nórdicos são respeitados bem como o funcionalismo público.
Tudo isto dá que pensar...